.

.

domingo, 27 de setembro de 2015

Religião e Política: Mais uma vez, a incoerência do tal "Estatuto da Família"


Na direção contrária de líderes eclesiásticos protestantes de séculos e décadas passadas – que labutaram pela separação entre Igreja e Estado, pelo fim da escravidão, pelo tratamento digno dos mais pobres, pela igualdade jurídica das mulheres, pela igualdade plena de direitos de grupos sociais minoritários, pela proteção ao meio ambiente, pela construção da paz, etc etc etc –, muitos dos líderes eclesiásticos protestantes ou evangélicos (os dois adjetivos não são necessariamente sinônimos, já que o Evangelicalismo é apenas um movimento dentro do Protestantismo) atuantes no Poder Legislativo brasileiro preferem o caminho da segregação de direitos, por meio da imposição duma visão teológica incoerente. É um grande testemunho contrário àqueles exemplos de mulheres e homens do presente e dum passado nem tão longe assim. Uma vergonha!

Isso me faz pensar em meus irmãos protestantes ou evangélicos no Paquistão, que sofrem uma assombrosa perseguição, e cujos líderes pregam, em retorno, a compaixão, o perdão e o serviço àqueles que os perseguem. No Brasil, um país de relativa liberdade religiosa, os “vingadores de Cristo” (como os identificou um daqueles pregadores de TV) preferem retirar direitos de cidadãos em nome duma obsessão com a dita comunidade LGBT – sim, porque, como já escrevi antes, a raison d'être do “Estatuto da Família” é a guerra antigay, baseada numa moral sexual particular, levada adiante pelas bancadas religiosas no Legislativo brasileiro. Uma vergonha!

+Gibson

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Deus, Cristianismo, Inferno, Homossexualidade: Uma breve resposta a múltiplas provocações das últimas semanas



Infelizmente, por razões pessoais, tenho tido pouco tempo para responder à maioria das mensagens das últimas semanas. Por essa razão, responderei aqui, de forma breve e conjunta, a algumas das “provocações” de meus correspondentes. Assim que tiver tempo, oferecerei uma resta mais ampla. Perdoem-me pela brevidade.





Deus e Cristianismo



Como um cristão, encontro minha “janela” ou meu “caminho” para Deus na tradição cristã (na comunidade da Igreja, nas Escrituras, na Liturgia, na narrativa cristã, etc). Mas o Cristianismo é a resposta humana à Realidade que chamamos “Deus”, e não o contrário. Eu sou cristão, mas isso não significa que Deus seja cristão!





O Inferno



Não acredito na existência dum lugar objetivo para onde espíritos sejam enviados como condenação por seus pecados. O “inferno”, em minha visão, é uma metáfora para um estado espiritual/mental de alguém. Não se trata dum espaço geográfico no Universo. A crença na existência dum “inferno” físico contradiz minha compreensão acerca do Divino e da natureza do Universo.





Igreja e Homossexualidade



Tenho uma filosofia muito simples para resolver essa questão de compatibilidade: qualquer comunidade de fé é uma sociedade humana, com suas tradições e regras. Se você quiser fazer parte dessa sociedade, terá de se submeter às suas regras. Caso contrário, pode não ser membro de qualquer uma, pode buscar uma outra sociedade ou, quem sabe?, fundar sua própria.



Se uma determinada comunidade de fé ensina que isso ou aquilo é pecaminoso e que a punição pela "desobediência" às regras seja sua exclusão, você tem a escolha de se submeter às regras da mesma ou não – mas não terá poder para escolher as consequências por suas escolhas, no que tange à comunidade em si. Lembre-se que a filiação religiosa é uma associação voluntária, ou seja, ser membro duma comunidade de fé é voluntariamente se submeter às suas regras. Você não pode esperar que uma comunidade mude em função de você se isso contraria à compreensão que ela tem de si mesma. Mas você, por outro lado, pode encontrar uma outra comunidade!... Fazer esse tipo de escolha pode ser complicado e doloroso, mas é uma escolha justa para com os demais membros duma comunidade que não o aceite e íntegra consigo mesmo!





Ainda sobre Homossexualidade



Para mim, as pessoas são “humanas” (e tudo o que isso implica no contexto teológico e sociocultural) antes de serem qualquer outra coisa. As identidades que ou abraçamos ou nos são impostas – sejam as identidades nacionais, religiosas, políticas, ou emotivo-sexuais – são apenas partes dum todo muito maior. Nós somos muito mais do que essas partes separadas – e mais do que sua soma. Assim, tratar de si próprio ou de outra pessoa como se sua orientação emotivo-sexual fosse sua “essência” é negar a si próprio ou a outrem sua humanidade – que, na perspectiva teológica que abraço equivaleria a negar nossa origem na “dança divina” da Criação.





+Gibson

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Fé ou preconceito?: uma resposta a Ana


Ó homem, já foi explicado o que é bom e o que o Senhor exige de você: praticar o que é justo, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o seu Deus.
(Miqueias 6:8)

Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção do mundo.
(Tiago 1:27)

[…] Tratai com benevolência os vossos pais e parentes, os órfãos, os necessitados, o vizinho próximo, o vizinho estranho, o companheiro de lado, o viajante e os vossos servos, porque Deus não estima arrogante e pretensioso algum.
(Alcorão 4:36)

Cara Ana,

É importante que você perceba que nunca escrevi que não há “verdade”. Muito pelo contrário. Se você ler cuidadosamente o que tenho publicado aqui mesmo, neste blogue, perceberá que apenas enfatizo uma diferença epistemológica entre “verdade” e “factualidade”. Nem toda “verdade” é factualmente/objetivamente verificável: assim, por exemplo, o amor é uma “verdade”, apesar de não ser uma “factualidade” (porque não pode ser mensurado em si). Esse ponto é importantíssimo quando discuto temas concernentes à eticidade. Tendo dito isso, deixe-me responder às suas provocações.

Não. Não acredito que todas as religiões sejam igualmente “verdadeiras” (lembre-se da distinção que faço entre “verdade” e “factualidade”). Há muitas semelhanças entre diferentes tradições de fé, mas há, também, incontáveis diferenças – que podem ser, dependendo das tradições teológicas em questão, irreconciliáveis. Assim, para mim, há certos conceitos/doutrinas e práticas religiosos que não posso aceitar como “verdadeiros” ou “certos”, pois violam princípios teológicos que moldam minha compreensão do sagrado e/ou da “realidade” factual. [Todos esses termos podem parecer apenas um “emaranhado de palavras” para que eu pareça “mais inteligente do que realmente” sou – suas palavras –, mas eu as utilizo para evitar a armadilha da falsa objetivação do que não pode ser mensurado. E o público ao qual destino estas páginas é capaz de compreender os usos que faço.]

Baseada apenas numa lista de links e em uma única postagem aqui, você escreve que devo ser “um muçulmano disfarçado de cristão”. Essa é uma acusação que, no mínimo, segue em direção oposta ao que geralmente sou acusado. A maioria de meus denunciadores me acusam de ser um “ateu” ou “anticristo” disfarçado de cristão! [É bem verdade que já fui acusado de ser um “católico disfarçado de protestante”; “judeu disfarçado de cristão”; “comunista disfarçado de liberal”; etc, etc, etc. Mas, com sua acusação, atinjo um nível recorde de “disfarces”!]

Para esclarecer sua dúvida – ou seria “para desmentir sua certeza”?! –, sou um cristão liberal, com background judaico. Com tal perfil religioso, tenho muito em comum com alguns muçulmanos – com nossa preocupação em viver nossa fé, e não apenas proclamá-la com nossas bocas. Tenho muitos amigos muçulmanos. Já vivi num país de maioria muçulmana. E, em decorrência de minha formação cultural/acadêmica e minha experiência de vida, posso dizer que conheço o Islã razoavelmente bem. Por isso, sei distinguir o que é abraçado pela maioria do que é compreensão minoritária. Esse é um tipo de conhecimento, aliás, disponível a toda pessoa de boa vontade – só é necessário dar um passo para fora da bolha cultural na qual, muitas vezes, as pessoas se escondem e se separam do resto da humanidade. Posso ser fiel à minha própria fé religiosa e à minha própria visão de mundo sem ser desonesto quanto à fé e compreensão alheias – sem erroneamente atribuir-lhes certas compreensões, simplesmente para engrandecer minhas próprias.

Se há terroristas que se apresentam como muçulmanos – e que você, equivocadamente, vê como “representantes autorizados” do Islã –, também há terroristas, assassinos, ladrões, corruptos e corruptores que se apresenta(ra)m como cristãos ou judeus. E, nem por isso, você me escreve dizendo que todos os cristãos ou judeus são terroristas, assassinos, ladrões, corruptos, corruptores etc! Isso não lhe diz nada sobre sua própria visão de mundo? [...ou, ao menos, a visão de mundo que você exibiu em sua provocação?!…] A julgar pela forma como a maioria dos muçulmanos que conheci ou conheço se comportam e vivem suas vidas, tenho certeza que é sua visão de mundo que está equivocada.

Paz!
+Gibson

sábado, 5 de setembro de 2015

As Escrituras e a Declaração Universal dos Direitos Humanos já dizem o que acredito sobre aqueles(as) que buscam refúgio


Não escreverei mais nada sobre a situação de nossos irmãos e irmãs em busca de refúgio nas diferentes partes do mundo. Prefiro que as Escrituras e a Declaração Universal dos Direitos Humanos falem por mim:

"Se um estrangeiro vier habitar convosco na vossa terra, não o oprimireis, mas esteja ele entre vós como um compatriota, e tu o amarás como a ti mesmo, porque fostes já estrangeiros no Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus." (Levíticos 19:33-34)

"Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes." (Mateus 25:31-40)

"Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu o doutor: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo." (Lucas 10:30-37)

"Artigo 13
I) Todo homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
II) Todo o homem tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo 14
I) Todo o homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
II) Este direito não pode ser invocado em casos de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas." (Declaração Universal dos Direitos Humanos)