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terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Oração de Jesus - uma versão para hoje

Eterno Espírito,

Doador da vida,

Fonte de tudo o que é e de tudo o que será.

Pai e Mãe de todos nós,

Amoroso Deus, em quem está o céu:


Que teu nome ecoe no universo!

Que o caminho de tua justiça seja seguido pelos povos do mundo!

Que tua vontade celestial seja feita por todas as criaturas!

Que teu domínio de paz e liberdade sustenha nossa esperança e venha à terra.


Com o pão que precisamos hoje, alimenta-nos.

Nas mágoas que absorvemos uns dos outros, perdoa-nos.

Em tempos de tentação e aflição, fortalece-nos.

De provações muito difíceis, poupa-nos.

Da força de tudo que é mal, livra-nos.


Pois reinas na glória do poder que é o amor, agora e para sempre.


Amém.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Deus... a mais bela metáfora

É quase inevitável. A maioria das pessoas fora de meu universo religioso unitarista pensam que sou ateu (não que isso seja problema para mim). E isso é compreensível, já que a maioria das pessoas pensam haver uma única forma cristã de se pensar a respeito do “sagrado”, e meu discurso não corresponde a esse padrão esperado pela maioria. Por outro lado, para pessoas não religiosas ou que abraçam um pensamento onde não há espaço para um “sagrado”, posso soar como um teísta, independentemente de eu não ser adepto de um teísmo sobrenaturalista.


Devo reconhecer que “Deus” nunca é tema específico de meus textos ou de meus discursos públicos. E por muitas razões. Uma dessas razões é o fato de eu ser um ministro unitarista e, como tal, evitar (?) definir “Deus” para que, assim, o termo (que vejo como metafórico) possa servir de encarnação para diferentes visões acerca do “sagrado”. Se eu falasse acerca de Deus, definindo dogmaticamente o termo, estaria excluindo pessoas que compreendem “Deus” duma maneira diferente da minha. Uma segunda razão para evitar (?) falar especificamente a respeito de Deus é a forma como interpreto minha fé, o mundo ao meu redor (e do qual sou parte) e a relação entre minha fé e o mundo.


É bom esclarecer que quando uso o termo “” aqui, me refiro à experiência religiosa – e não a crenças doutrinárias. A experiência religiosa, em minha concepção, é o processo de abraçar o mistério que nos cerca e envolve. É o processo de reconhecer que há algo “sagrado” (outro termo que prefiro deixar aberto a interpretações) nesta vida que vivemos – que há um Mais neste universo imperfeito, incompleto e acidental que nos leva a querer aperfeiçoá-lo (o universo) com nossas próprias criações (científicas, artísticas etc).


Esse “sagrado” reconhecido por nossas experiências religiosas (o fenômeno religioso ou a religião, se preferir) e explicado das maneiras mais diversas possíveis, e chamado de “Deus” pela maioria de nós, é o que chamo de “essência da experiência humana”.


Deus, em minha visão, não é uma pessoa; não é um criador ou um senhor; não é um pai ou um rei celestial que deva ser honrado. Deus é uma metáfora – a mais bela metáfora criada pela experiência humana. Como metáfora, não vejo nenhum problema em nos referirmos a essa Realidade como se fora uma pessoa, atribuindo-lhe características humanas – como amor, cuidado, paternidade, etc. Mas, para mim, tudo isso é apenas parte da bela metáfora criada por nossa experiência.


Deus é um caminho “sagrado” de vida que nos faz mergulhar no interior de nós mesmos para que possamos descobrir o que é ser humano.


Em minha opinião, a humanidade criou a noção de “Deus” não apenas porque precisasse explicar a razão de ser das coisas numa era não-científica (isso também), mas porque precisava de um modelo ideal para o que os seres humanos poderiam ser (amorosos, misericordiosos, hospitaleiros etc), mesmo que com certos traços das distorções humanas (intolerância, violência, autoritarismo etc).


Tudo o que sei a respeito do universo do qual sou parte exclui a perspectiva de um Ser que tenha criado tudo isso com propósito e plano definidos. Aparentemente, somos resultados acidentais de uma desordem cósmica – se você se interessa por física e cosmologia contemporâneas, saberá do que estou falando. Isso, entretanto, de maneira alguma diminui nossa importância e a importância da Metáfora que construímos para dar um sentido ao todo.


O fato de eu não acreditar que esteja aqui por determinação de uma deidade suprema, de não acreditar que haja um Ser controlando nossos destinos, faz com que meu sentimento de reverência pelo desconhecido e meu senso de responsabilidade para com o mundo aumentem ainda mais.


Deus pode não ser mais aquilo no que se acreditava antes de nossas descobertas científicas (que demoliram antigas concepções acerca do nosso universo, tornando, assim, antigas crenças religiosas insustentáveis, mas que também futuramente demolirão muitas crenças científicas que abraçamos agora), mas ainda há espaço para o “mistério”. Alguém, por exemplo, consegue explicar o que é a vida, afinal de contas? Alguém consegue explicar para onde vai a matéria engolida por buracos negros no espaço?... Ainda há espaço para o mistério!


Deus é, no fim de tudo, uma Realidade dentro da qual existimos e somos (Atos 17:28); é a própria Força de Vida que causa explosões estelares e as subsequentes criações que resultarão dessas explosões; é o processo de evolução da vida que tem estado presente há bilhões de anos neste planeta.


Deus é uma Metáfora para o mistério da vida que ainda não desvendamos, e que, certamente, continuará a nos inquietar por muito tempo – talvez, quem sabe, pelo resto da existência dos seres humanos. Prefiro que continue assim, um tremendo mistério que envolva-nos e que nos lembre que não podemos conhecer tudo e ter todas as respostas.




Rev. Gibson da Costa, D.D. - Ministro da Congregação Unitarista de Pernambuco

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Deus no homem

Os unitaristas acreditam que Deus fale ao homem por meio da consciência. Pode ser verdade que muitos homens sejam levados pelo prazer, mas a consciência nunca cessa de falar ao homem como uma autoridade maior que ele próprio. Mesmo os piores homens estão, às vezes, cientes de conflitos em seu interior, como se fossem duas pessoas, uma que ordena e outra que é comandada. Esses dois seres são o si-mesmo e o maior-que-o-si-mesmo – a alma e Deus.


Aqui, para remover toda dúvida sobre um Deus interior, seria bom ponderar a respeito da iluminadora frase do falecido professor C. B. Upton: 'resistência espiritual'. Nos tornamos conscientes da existência do mundo exterior por sentirmos que algo nos resiste. Da mesma forma, nos convencemos da realidade de Deus em nossas almas por estarmos conscientes de um ideal que, às vezes, resiste nossas inclinações interiores e, outras vezes, nos move adiante.”


Rev. Alfred Hall, As Crenças de um Unitarista (Londres, 1932) – ministro unitarista

Religião em comunidade e salvação

Desenvolver uma religião nobre em solidão é quase uma impossibilidade. Os homens alcançam uma consciência mais profunda de Deus associando-se uns aos outros em seus melhores momentos.”

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"Os Unitaristas acreditam que a salvação é encontrada no aperfeiçoamento do caráter. Consideramos o 'céu' basicamente como um estado ou condição da alma. Nossa ideia de salvação é, assim, espiritual: consiste não no que temos ou onde estamos, mas no que somos e no que podemos nos tornar. Vendo que ninguém é perfeito aqui, não dizemos que ninguém seja 'salvo'."


Rev. Alfred Hall, As Crenças de um Unitarista (Londres, 1932) – ministro unitarista

A obra da igreja

Thomas Starr King


Esta é minha visão da obra da Igreja – tornar os homens internamente cristãos, fazendo-os direcionar sua afeição ao que é puro e santo, e depois enviá-los como agentes reformadores da sociedade, para que possam trabalhar da melhor maneira que seus instintos os direcionarem.”


Thomas Starr King (1824-1864), Carta a Randolph Ryer, 11 de junho de 1849 – ministro unitarista

Revelação?

Frederic Henry Hedge


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O propósito da revelação não é decidir questões especulativas, dependendo de boas interpretações de palavras, mas incutir um novo espírito nas coisas humanas, ilustrar grandes princípios de importância prática com novas sanções. Os princípios são eternos; os dogmas nos quais se encarnam são limitados e temporários.”

Frederic Henry Hedge (1805-1890), “Razão na Religião” (1865), p. 408 – ministro unitarista

Jesus como fonte de inspiração

O amor, divino e humano, é a mais nobre palavra, uma palavra que mesmo agora sequer começamos a compreender. Se Jesus tivesse apenas proclamado tal ensino, poderíamos ter tido outra escola filosófica, ou poderíamos simplesmente ter tido outro grande indivíduo preenchendo um dos nichos da história. É mais provável, entretanto, que suas palavras, não escritas e não sistemáticas como foram, teriam sido esquecidas, e que ele tivesse sido esquecido com elas. Certamente não teríamos tido nele o fundador de uma nova religião. Os ensinamentos de Jesus foram, entretanto, encarnados em sua vida. Por outro lado, sua vida teria sido lembrada simplesmente como nos lembramos das vidas de outros heróis, ou mais provavelmente teria sido esquecida, se ela não tivesse sido um modelo de seu ensino. Felizmente para o mundo, os dois elementos, os ensinamentos e a vida, estavam unidos nele. Sejam quais forem as teorias que defendemos, sejam quais forem as teorias que rejeitamos, em se tratando da natureza e da pessoa de Jesus, sua vida terá uma posição e um poder incomparáveis a de qualquer outro, desde que seus ensinamentos mantenham sua posição de inspiração do melhor e mais verdadeiro viver.”


Rev. Charles Carroll Everett (1829-1900), “Cristo Histórico e Ideal” – ministro e teólogo unitarista, professor de teologia na Universidade Harvard



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Religião e ciência


Rev. Ralph Waldo Emerson


A religião que teme a ciência desonra a Deus e comete suicídio. Ela reconhece que não é igual à verdade plena, que legisla e tiraniza sobre uma vila do império de Deus, mas não é a lei imutável universal. Todo influxo de ateísmo, de ceticismo, torna-se, assim, útil como uma pílula de mercúrio a atacar e remover uma religião morta, e a abrir caminho para a verdade.”


Rev. Ralph Waldo Emersonministro unitarista do século XIX, teólogo, poeta, filósofo, pensador

A igreja na concepção unitarista

"A nossa igreja é uma igreja da razão – não porque a mente seja livre de erros, mas porque o diálogo de mente com mente, e da mente consigo mesma, refina o pensamento religioso.


A nossa igreja é uma igreja de obra moral – não porque pensemos que a moralidade seja uma religião suficiente, mas porque não conhecemos uma melhor maneira de mostrar nossa gratidão a Deus, e nossa confiança uns nos outros.


A nossa igreja é uma igreja de consciência – não porque acreditemos que a consciência seja infalível, mas porque ela é o local de encontro entre Deus e o espírito humano.


A nossa igreja é uma igreja adogmática – não porque não tenhamos crenças, mas porque não seremos restringidos em nossas crenças."


Rev. Wallace W. Robbins - ministro unitarista, falecido em 1988