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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Unitarismo elitista bostoniano e os unitaristas brasileiros


No passado, o Unitarismo foi tão parte da vida de Boston, que chegou a ser conhecido como a “Religião Bostoniana”. Para entender o por quê, é só visitar a cidade e olhar para a Câmara Legislativa de Massachussetts – que o unitarista Oliver Wendell Homes chamou de “eixo do sistema solar” -, cujo edifício foi desenhado pelo unitarista Charles Bulfinch, e na frente do qual está a estátua do educador unitarista Horace Mann e do político unitarista Daniel Webster. Diante da Câmara está um Memorial ao também unitarista Robert Gould Shaw, o coronel da Guerra Civil americana, que liderou um regimento negro imortalizado no filme “Tempo de Glória” (de 1989).


Em muitos de seus textos, David Robinson, autor de muitos livros sobre a história do Unitarismo, aponta para a importância da cidade de Boston para a vida intelectual americana desde a Independência, e da maneira como a cultura literária americana dependia da cultura religiosa unitarista. Entre a Independência e a Guerra Civil, Boston era a grande metrópole cultural dos Estados Unidos, e os autores e artistas apreciados nos Estados Unidos eram unitaristas.


Harvard, a mais antiga universidade americana, era o berço da intelligentsia unitarista, e de lá saíam os cérebros que alimentariam a intelectualidade do país. A partir de 1805, o corpo docente da universidade passou a ser formado por uma maioria esmagadora de ministros unitaristas. Era o nascimento da tradição elitista dos unitaristas de Harvard. Esses unitaristas exerceriam uma influência assombrosa nas igrejas da região. À medida que os ministros formados em Harvard assumiam postos nas antigas igrejas puritanas da região, grupos dentro dessas igrejas se tornavam unitaristas e muitas divisões ocorreram. Os antigos líderes conservadores de muitas dessas paróquias foram à justiça contra os unitaristas em suas congregações, mas quase todos os juízes da região eram unitaristas, fazendo com que (na visão dos “conservadores”) os unitaristas fossem beneficiados.


Os primeiros unitaristas bostonianos eram socialmente conservadores, mas, apesar disso, eram politicamente liberais. Liderada pelos ministros unitaristas William Ellery Channing (sim, o nosso Channing!) e Theodore Parker, Boston se manteve à dianteira do movimento abolicionista. O movimento feminista seria liderado também pela unitarista bostoniana Susan B. Anthony. E os unitaristas de Boston não se revoltavam apenas contra o sistema puritano – eles resolveram se revoltar contra o próprio unitarismo, na forma do transcendentalismo, que rejeitava as igrejas e os ministros em nome de uma comunhão com a natureza. Dois de seus principais líderes, os unitaristas Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, contribuíram para o florescimento da literatura americana, e o texto “Desobediência Civil”, de Thoreau, influenciaria Martin Luther King Jr e Mahatma Gandhi.


Ironicamente, foi exatamente essa associação do Unitarismo com Boston e com a vida elitista do establishment americano que impediu um maior crescimento do Unitarismo nos Estados Unidos. O Unitarismo era (e, em alguns casos, ainda é) visto como a religião dos ricos, poderosos e intelectuais descrentes. Se alguém buscasse consolo para a alma e forças para continuar, muito provavelmente não encontraria isso no Unitarismo. Essa é também a razão pela qual o Unitarismo não conseguiu se desenvolver no Brasil. Os unitaristas que vieram para o Brasil, e fundaram nossas comunidades, vinham de Boston, tendo trazido consigo um pouco daquele ar elitista. O Reverendo Charles Phelps, o primeiro ministro dos unitaristas brasileiros, era um desses unitaristas clássicos que proclamavam uma religião intelectualmente poderosa, mas incapaz de atingir o espírito brasileiro.

Não devemos nos envergonhar de nossa tradição: uma tradição religiosa que não se divorcia do intelecto. Nós unitaristas continuaremos a ser como nossos pais da Nova Inglaterra - os desafiadores de nós próprios. O que me pergunto, entretanto, é se não faremos isso numa linguagem que possa ser compreendida por nossos compatriotas. Com a aproximação da oitava década de nossa comunidade aqui, me pergunto se já não está na hora de repensar nosso elitismo! Temos nos esforçado para mudar nossa língua (literalmente!) - usando português em nossa liturgia. Mas nos falta muito. Temos de encontrar uma forma de falar nossa mensagem de uma maneira que toque o coração de pessoas que não estão acostumadas ao nosso vocabulário "elitista" (?). Elas querem ouvir nossa mensagem, elas estão em busca disso, só não descobrimos uma forma de conversar com essas pessoas ainda. Já está na hora!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Leituras Para o Advento

Tempo do Advento: 28/Nov/2010 – 19/Dez/2010

Primeiro Domingo de Advento – 28 de Novembro de 2010
  • Primeira Leitura: Isaías 2:1-5
  • Salmo: Salmo 122
  • Segunda Leitura: Romanos 13:11-14
  • Evangelho: Mateus 24:36-44


    "Que possamos ter ouvidos para ouvir e olhos para ver, ó Deus, tua presença entre nós durante este tempo de alegria, enquanto antecipamos a vinda de Jesus. Amém."

Segundo Domingo de Advento – 5 de Dezembro de 2010
  • Primeira Leitura: Isaías 11:1-10
  • Salmo: Salmo 72:1-7, 18-19
  • Segunda Leituras: Romanos 15:4-13
  • Evangelho: Mateus 3:1-12


    "Ouça nossa humilde oração: que possamos servir a todos os teus filhos em alegria, dando voz à tua presença entre nós até o dia da vinda de Jesus. Amém."

Terceiro Domingo de Advento – 12 de Dezembro de 2010
  • Primeira Leitura: Isaías 35:1-10
  • Salmo: Salmo 146:5-10 ou Lucas 1:46b-55
  • Segunda Leitura: Tiago 5:7-10
  • Evangelho: Mateus 11:2-11


    "Deus de paz e alegria, tu que fortaleces o que está fraco, que enriqueces os pobres e dás esperança àqueles que vivem no medo, ajuda-nos a enxergar a necessidade de nosso próximo e a servi-los e amá-los incondicionalmente até a vinda de Jesus e para sempre. Amém."

Quarto Domingo de Advento – 19 de Dezembro de 2010
  • Primeira Leitura: Isaías 7:10-16
  • Salmo: Salmo 80:1-7, 17-19
  • Segunda Leitura: Romanos 1:1-7
  • Evangelho: Mateus 1:18-25


    "Deus da promessa, nos deste um sinal de teu amor por meio da presença de Jesus, nosso Mestre. Cremos, como José, na mensagem de tua presença, e oferecemos nossas orações em favor de teu mundo, confiantes em teu cuidado e amor para com toda a criação. Amém."

Acendendo as Velas de Advento

Em cada acendimento sucessivo das velas de Advento, todos os textos dos acendimentos anteriores são lidos juntamento com as leituras daquele dia específico.

No Primeiro Domingo de Advento e nos Domingos seguintes:

Neste dia testemunhamos a luz de Cristo com todos os fiéis de todos os tempos e todos os lugares:

Com Isaías e Jeremias, profetas de Israel,
esperamos a vinda da justiça e retidão à terra.

No Segundo Domingo de Advento, e nos outros acendimentos das velas:

Com João Batista, clamamos do deserto:
Preparem o caminho do Senhor!
Seu reino está próximo.”

No Terceiro Domingo de Advento, e nos outros acendimentos das velas:

Com Maria, a mãe de Jesus,
magnificamos o Senhor, nos alegrando em nosso Deus,
que fez grandes coisas.

No Quarto Domingo de Advento, e nos outros acendimentos das velas:

Com os autores dos Evangelhos,
contamos as boas novas de Jesus Cristo, a criança de Belém,
que veio para nos salvar com seus ensinamentos,
e vem novamente para reinar em nossos corações.

Na Véspera do Natal, ou no Dia de Natal:

Junto com todos os fieis de todos os tempos e lugares, cantamos:
Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra, aos homens de boa vontade.”

Em cada ocasião o acendimento das velas é concluído com:

A Palavra se tornou carne e viveu entre nós,
e vimos sua glória.
Aleluia!

domingo, 21 de novembro de 2010

Leituras de Hoje - Lecionário Comum Revisado


Próprio 29 (34) – 21 de novembro de 2010
  • Primeira Leitura e Salmo
    • Jeremias 23:1-6
    • Lucas 1:68-79 ou Salmo 46

  • Segunda Leitura
    • Colossenses 1:11-20 

  • Evangelho
    • Lucas 23:33-43

Livros de Interesse para Unitaristas

Três livros que relatam as ideias, experiências e vida de dois grandes unitaristas: Charles Darwin, o grande homem da Teoria da Evolução [os dois primeiros livros na lista]; e, um de meus maiores herois e uma das figuras mais respeitadas na história do Unitarismo, Joseph Priestley, que junto com Theophilus Lindsey organizou o Unitarismo na Grã-Bretanha, além de o ter levado para os Estados Unidos, e ter descoberto o oxigênio [o terceiro livro da lista].


KEYNES, Randal. Creation: The True Story of Charles Darwin. New York: Penguin Group, 2001.

DESMOND, Adrian; MOORE, James. A Causa Sagrada de Darwin: raça, escravidão e a busca pelas origens da humanidade. Rio de Janeiro: Record, 2009.

JOHNSON, Steven. A Invenção do Ar: uma saga de ciência, fé, revolução e o nascimento dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009.

O que tenho lido ultimamente?

BROWN, Cynthia Stokes. A Grande História: do Big Bang aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

CHRISTIAN, David. Maps of Time: An Introduction to Big History. Berkeley: University of California Press, 2004.

DAWKINS, Richard. The Blind Watchmaker. London: Penguin Books, 2006.

_________________. The Ancestor's Tale: A Pilgrimage to the Dawn of Evolution. New York: Houghton Mifflin Company, 2004.

GLEISER, Marcelo. A Dança do Universo: dos mitos de criação ao Big Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

________________. Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza. Rio de Janeiro: Record, 2010.

________________. O Fim da Terra e do Céu: o Apocalipse na Ciência e na Religião. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

JOSEPH, Irmã Miriam. O Trivium: As Artes Liberais da Lógica, Gramática e Retórica. São Paulo: É Realizações, 2008.

MAGNOLI, Demétrio. Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial. São Paulo: Contexto, 2009.

POTTER, Christopher. Você Está Aqui: Uma História Portátil do Universo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.


SAGAN, Carl. Cosmos. New York: Random, 1985.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Liturgia da Santa Comunhão - 14 de Novembro de 2010


CONGREGAÇÃO UNITARISTA DE PERNAMBUCO
Mentes Abertas – Mãos Abertas – Corações Abertos

Ofício Bilingue - Bilingual Service

25º Domingo Depois do Pentecoste – 14 de novembro de 2010
25th Sunday After Pentecost – November 14, 2010


Canção de InspiraçãoSong of Inspiration: “Yeliel (My Angel)” – Coral/Choir

Just like the sea
No one possesses you
And no one can go down to
The deepest side of you

Just like a tree
Decades and memories
Articulate and seal
Every one of your dreams

When I need you I secretly sing you this part of my soul

[Chorus:]
Yeliel, my angel
Know that I can hear you
And every word you speak is holy
Wind caressing me
Yeliel, my angel
Know that I can see you
And when I fall I feel your arms around my destiny
Protecting me

I do believe
Some things are mysteries
The simple fact that we stand alive
that we breathe
Why do I love
Why do I hate and die
Where do these things all lie
I don't know why I cry

When I need you I secretly sing you this part of my soul
[Chorus]
Why do I love
Why do I hate and die
Where do these things all lie
I don't know why I cry
When I need you I secretly sing you this part of my soul
[Chorus]


Chamado à Reunião – Gathering Call: Marta Melo

Nos reunimos admirados pela Vida,
Para celebrar a vida e a comunidade.

Abraçamos a todos com amor incondicional e aceitação graciosa,
Todos são bem-vindos, todos são valorizados.

Hoje celebramos o Amor e a Amizade,
Nos comprometemos com o ensino de Jesus de amor incondicional.

Encontramos uma janela para o Deus de muitos nomes em Jesus,
E também encontramos inspiração nas palavras de outros que buscaram a Deus.

Somos uma comunidade de mentes, mãos e corações abertos,
Trabalhando e vivendo pela justiça e paz no mundo.

Buscamos expressões e experiências de Deus dentro, entre e além da palavra, pensamento e ação.
Juntos continuamos a aventura humana.


Canção de Reunião – Gathering Song: “Podes Crer” (Cidade Negra) – Coral e Todos/Choir & All

O que é, meu irmão
eu sei o que te agrada
e o que te dói, e o que te dói

É preciso estar tranquilo
pra se olhar dentro do espelho
refletir
o que é?

Seja você quem for
eu te conheço muito bem
isso faz bem pra mim
isso faz bem pra vida

Onde quer que vá
eu vou estar também
eu vou me lembrar
daquela canção que diz

parapapapa....

Bendito
encontro
na vida
amigo

É tão forte quanto o vento quando sopra
tronco forte que não quebra, não entorta
podes crer, podes crer,
eu tô falando de amizade

Oração/Prayer: Diácono Elias Santana (português)/Deacon Lars Channing (English)

Diáconos/Deacons: Deus esteja com vocês - God be with you
Todos/All: O espírito de Deus está aqui. - God's spirit is here.

Amado Deus, Mistério e Vida do Universo, nos reunimos aqui para celebrar as dádivas com as quais nos abençoastes. Nos reunimos aqui para aprender a amar o mundo, para aprender a perdoar, para aprender a sorrir. Que teu espírito de amor e compreensão possa nos preencher. Que possamos ser tua presença para outras pessoas. Que possamos amar incondicionalmente a todos. Esta é nossa oração. Amém.

Loving God, Mystery and Life of the Universe, we gather together to celebrate all the gifts with which you have blessed us. We gather here to learn how to love the world, to learn how forgive, to learn how to smile. May your spirit of love and understanding fill us. May we be your presence to other people. May we love all unconditionally. This is our prayer. Amen.

Canção/Song: “Side” (Travis) – Rev. Gibson da Costa/Cristina Wolfenson/Shannon/Coral

Well I believe there's
Someone watching over you
They're watching
Every single thing you say
And when you die
They'll set you down
And take you through
You'll realise one day

That the grass is always
Greener on the other side
The neighbour's got a new car
That you wanna drive
And when time is running out
You wanna stay alive

We all live under the same sky
We all will live, we all will die
There is no wrong,
There is no right
The circle only has one side

We all try hard to live
Our lives in harmony
For fear of falling swiftly overboard
But life is both a major and minor key
Just open up the chord

...


1ª Leitura / 1st Reading: Isaías 65:17-25 / Isaiah 65:17-25

Leitor: May God Bless the Hearing of these words. / Que Deus abençoe os que ouvem essas palavras.
Todos/All: Amen. / Amém.

Salmo / Psalm: Isaías 12 / Isaiah 12


Canção do Evangelho – Gospel Song: “Ancient Words” - Choir

Holy words, long preserved
for our walk in this world
they resound with God's own heart
oh let the ancient words impart

Ancient words ever new
Changing me and changing you
We have come with open hearts
Oh, let the ancient words impart

Leitura do Evangelho / Gospel Reading: Rev. Gibson da Costa

Lucas 21:5-19 / Luke 21:5-19

Sermão / Sermon: Rev. Gibson da Costa

AFIRMAÇÃO DE FÉ:

MINISTRO: Não estamos sozinhos. Vivemos no mundo de Deus.

TODOS: Cremos em Deus: que criou e está criando, que enviou-nos Jesus, como anunciador de Sua Palavra, para reconciliar e tornar novo, que opera em nós e em outros pelo espírito. Confiamos em Deus. Somos chamados a ser a igreja: para celebrar a presença de Deus, para viver com respeito na Criação, para amar e servir aos outros, para buscar a justiça e resistir ao mal, para proclamar a mensagem de Jesus, nosso modelo de amor incondicional.

MINISTRO: Na vida, na morte, na vida além da morte, Deus está conosco.

TODOS: Não estamos sozinhos. Graças a Deus.

ORAÇÕES DO POVO


CELEBRAÇÃO DA SANTA COMUNHÃO
(com a participação especial das crianças e jovens da Congregação)

Nota aos Visitantes: Nossa congregação celebra uma comunhão aberta. Entendemos a partilha do pão e do cálice em nome de Jesus como uma representação de uma antiga visão do banquete de Deus para todas as pessoas. Não exigimos que você seja um membro desta congregação, ou de qualquer outra, para participar conosco nesta celebração. Simplesmente venha adiante, seguindo a fila. Depois de mergulhar um wafer na taça, o ministro a colocará em sua língua e oferecerá uma breve benção. Se você preferir se servir, ponha suas mãos diante de si, no formato de concha, quando vier receber a comunhão. Se você não desejar receber a comunhão, pode permanecer em seu assento durante a distribuição da mesma.

A Organização da Mesa de Comunhão

Ministro: Por que temos uma mesa aqui?

Todos: Temos uma mesa porque somos criados e chamados por Deus para sermos um povo que se reúne em comunidade, para sermos alimentados em relacionamentos.

Ministro: Por que temos uma toalha sobre a mesa?

Todos: Temos uma toalha sobre a mesa porque Deus está entrelaçado às nossas vidas e somos cobertos com o amor de Deus.

Ministro: Por que temos velas sobre a mesa?

Todos: Temos velas sobre a mesa porque Deus é nossa luz e salvação, pois para Deus até mesmo a escuridão é como a luz. Como humanos somos chamados a ser a luz para o mundo.

Ministro: Por que temos flores sobre a mesa?

Todos: Temos flores sobre a mesa para nos lembrarmos do mistério e beleza da graça de Deus.

Ministro: Por que temos pão e vinho sobre a mesa?

Todos: Temos pão e vinho sobre a mesa como símbolos dos dons da criação de Deus.

(Os jovens e crianças participam neste ritual, trazendo a toalha e cobrindo a mesa, colocando os símbolos usados na cerimônia sobre a mesa, e acendendo o Cálice Flamejante.)

Orações

Ministro: Que todos aqueles que respiram conheçam sua liberdade vindo a esta mesa. O dever não pode trazê-lo aqui, nem o medo causado pela conformidade pode mantê-lo distante, pois esta mesa está em todos os lugares.

Todos: Nesta mesa, todo o ódio é desmembrado, o amor é relembrado, pois a lembrança não é um peso aqui.

Ministro: Venham todos, não confundindo a humildade com a auto-humilhação, nem a adoração com uma arte cerimonial. Venham com sua crença ou descrença, pois a fé é mais profunda que a crença, a comunhão mais elevada que a descrença.

Todos: Estamos aqui nesta tua mesa, Espírito, e tu estás aqui em nossa mesa, moldado por nossas palavras e atos.

(O pão e o vinho são elevados e, então, há silêncio.)

Lembremo-nos

Ministro: Todos os povos, em todos os tempos, têm considerado com admiração o mistério da vida e do crescimento. Todos os povos têm encontrado símbolos para expressarem reverência pelas forças de vida e maneiras de celebrarem sua dependência desta terra que nos alimenta. Pão e vinho são esse tipo de símbolos. E a Comunhão é uma maneira de celebrar tanto os dons que nos foram dados quanto a comunidade de relacionamentos na qual os usamos. Jesus e seus seguidores partilharam pão e vinho em sua última refeição juntos, e para eles aqueles elementos tinham um significado a mais, por serem partilhados durante o Pêssach (Páscoa) - um tempo de ritual no qual a libertação do povo hebreu da escravidão era comemorada.

Jesus usou o pão e o vinho como símbolos da libertação que o amor que ele pregava significaria para aqueles que entendiam sua mensagem. Ele segurou o pão e derramou o vinho, e disse:

"Façam isso em minha memória."

Partilhemos o pão juntos e partilhemos a taça de vinho em memória de Jesus, como ele pediu.

Lembremo-nos também de todos aqueles homens e mulheres que trabalham duro em todos os muitos tipos de campos e vinhedos, cujos fardos são pesados, e lembremo-nos que esses símbolos precisam ser para nós símbolos de libertação.

Lembremo-nos da própria terra, da qual, como nós mesmos, vêm o pão e o vinho, e para onde retornarão todas as coisas terrenas.

Lembremo-nos que este é um ato ritual de partilha, e que ao nos juntarmos para adorar nos unimos com nossas irmãs e irmãos de todas as etnias e religiões; pois todos nós buscamos sentido em meio ao mistério, todos nós encontramos aquilo que é digno de nossa admiração mais profunda. Damos a isso muitos nomes, mas o senso de que somos parte de um todo muito maior e mais vasto é o sentimento que partilhamos.

E finalmente, estejamos em silêncio juntos, enquanto cada um de nós se lembra de um momento sagrado pessoal e privado: Amém.

Orações

Somos gratos pela vida, ó Vida da vida. Louvada sejas, ó Bondade, por todo o bem. Louvada sejas, ó Verdade, por toda a verdade. E louvada sejas, ó Beleza, pelas maravilhas e sinais.

No amor demonstrado e na forte coragem, desde os dias dos antigos até agora: em atos de liberdade contra fatos de tirania, vemos teu poder. Em palavras autênticas ditas em tempos de mentiras, dos dias dos profetas até agora: na claridade não ferida pelo paradoxo, vemos teu poder. No equilíbrio e justiça e símbolo, dos dias dos salmistas até agora; nas proporções que pregam contra a distorção e a medonha ganância, vemos teu poder.

E vemos teu poder em nosso irmão Jesus, que viveu sua vida de acordo com tua vontade, linda e verdadeiramente; o bem fez ele, ao proclamar a Era Futura como sendo o Presente, ao nos ensinar contra o ressentimento, a violência, a fúria e a submissão, ao por um fim às categorias; do ventre de sua mãe ao túmulo de criminoso, ele viveu a vida que matou a morte, tornando nosso desespero uma esperança, tornando nossas diferenças uma comunidade.

Na véspera de sua morte ele nos chamou à vida, e como uma ama de leite não mais nos carregou, e nos tornou livres. Abençoando-te e esse pão festivo, ele disse: "Eis aqui meu corpo; partilhem dele."

Abençoando-te e erguendo esta taça, ele disse: "Eis aqui o pacto renovado que agora inauguro com meu sofrimento. Minha vida o sela: Vocês são todos irmãos e irmãs. Vocês são meus amigos. Amem-se uns aos outros. A nova era está entre vocês. Ao viverem sua vida agora, vocês me lembram ao Eterno e me tornam presente novamente.

Portanto, Espírito de Vida, vem agora, e mova-se em nós. Que este pão comum simbolize para nós o Corpo do qual toda a humanidade é parte, nosso "pão para o amanhã" que partilhamos hoje. Que esta taça comum simbolize para nós o sacrifício exigido de nós antes que o "Reino de Deus" possa começar. Que o pão e a taça sejam para nós aquela comunhão humana que é a nossa plena e única salvação. Vivendo gratamente e discernindo a unidade do Corpo, e celebrando nossa irmandade universal mesmo quando doa fazer isso, proclamamos a Páscoa de maneira mais bela que os lírios, mais verdadeiramente que qualquer doutrina. Portanto, santos são esses dons,

SANTO, SANTO, SANTO!!!

E estes são agora presentes para os doadores, presentes do espírito para pessoas de espírito; portadores de nosso próprio ser, presentes do espírito para pessoas de espírito; belos, verdadeiros e bons, presentes do espírito para pessoas de espírito. Amém.

***A COMUNHÃO É DISTRIBUÍDA


INSPIRAÇÃO MUSICAL: “Os Sinos da Paz”


BENÇÃO FINAL:

Ministro: Que saiamos deste lugar, encarando e servindo o mundo com confiança, generosidade e liberdade. Que possamos viver a essência da religião, que é unir tudo o que está dividido, viver no momento, amar poderosamente e reverenciar o mistério, beleza e espiritualidade de todas as coisas e de todas as pessoas. Amém.


domingo, 14 de novembro de 2010

Leituras de Hoje - Lecionário Comum Revisado


Próprio 28 (33) 14 de novembro de 2010

  • Primeira Leitura e Salmo: Isaías 65:17-25; Isaías 12
  • Segunda Leitura: 2 Tessalonicenses 3:6-13
  • Evangelho: Lucas 21:5-19

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sair do Armário - uma resposta à provocação de um amigo desconhecido


Caro Amigo,

Sou gay. Isso é algo sabido por todos, mas que preciso reafirmar aqui. E a razão para isso é simplesmente por questão de integridade pessoal. Quero que fique muito claro a partir de que lugar falo.

Eu sou muito mais do que apenas minha orientação emociono-sexual. Sou um ser humano pleno, e minha emociono-sexualidade é apenas um aspecto de minha humanidade. Como um ser humano, é importante ter esse meu lado apreciado por outras pessoas de minha comunidade, da mesma maneira que ter todos os outros meus lados apreciados é importante. Quando digo “apreciado”, quero, em verdade, dizer “respeitado, reconhecido, afirmado, personalizado”. Não necessito que outras pessoas “aceitem” minha orientação emociono-sexual como algo belo e magnífico, quero apenas que aceitem o fato de essa orientação ser uma parte de minha identidade, da mesma forma que sua orientação emociono-sexual é parte de sua própria identidade.

Vejo o “sair do armário”, assim, como um rito de passagem para o ser um humano mais pleno, e sou feliz por ser parte de uma tradição religiosa que honra o “sair do armário” como um ritual sacramental. No Unitarismo, todos nós “saímos do armário” - heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou transsexuais. Todos somos livres para, se quisermos, declarar à nossa comunidade o que descobrimos ser nossa orientação ou identidade sexual, já que a vemos como um dom divino.

“Sair do armário”, para alguns no “mundo lá fora”, parece ser sair à rua com uma bandeira colorida na mão, ao som de música eletrônica, circundado de personagens caricatos. Ou, talvez, seja essencialmente uma questão política. “Sair do armário” para um unitarista é ter a oportunidade de estar diante de sua comunidade e poder dizer “é este ou esta que eu sou e peço a vocês que me abençoem e fiquem do meu lado”. Em uma comunidade unitarista, um jovem gay, por exemplo, pode conhecer um outro jovem e pode contar com o cuidado, apreciação e apoio que qualquer outro jovem teria. Ele não precisa se esconder, como se estivesse fazendo algo errado e inaceitável, algo horrendo e maldito. Não. E é exatamente por isso que ele, assim como um jovem heterossexual também, tem a oportunidade de “sair do armário”, se quiser.

"Sair do armário" em minha visão política, religiosa, ideológica, não é forçar a minha verdade a outras pessoas. É simplesmente poder ser quem eu sou, e não ser discriminado legalmente nem agredido por isso. Não é ter direitos especiais, mas simplesmente ter os mesmos direitos, e estar sob as mesmas obrigações, que todas as outras pessoas têm e estão.


É bom que eu diga aqui que me oponho à criminalização de ideias homofóbicas. Apoio, sim, a criminalização da violência contra toda e qualquer pessoa - incluindo gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais e heterossexuais -, mas, para isso, não precisamos duma nova lei, já que a Constituição Federal afirma que todos são iguais perante a Lei. Acredito na liberdade de expressão e opinião. Acredito que as comunidades religiosas possam, sim, discriminar entre aqueles que delas queiram ser parte. Elas podem decidir que determinados comportamentos ou perfis não sejam condizentes com suas ideias. Logo, discordo de sua perspectiva a respeito do que deveria ser feito legalmente para punir a discriminação.

Creio que devamos sair, todos nós, de “nossos armários”. Nossos “armários” de medo. Nossos “armários” de dor. Nossos “armários” de receio. Nossos “armários” de solidão. Saiamos de nossos “casulos” de separação e nos afirmemos como membros de uma única família: a família humana – aquela família unida pelas mais diversas cores, línguas, nacionalidades, culturas, crenças, orientações emocionais e sexuais, idades, rendas financeiras, etc. Essas diferenças não deveriam nos separar, mas sim nos fortalecer. Elas são um dom divino.

Bençãos, e tudo de bom!

Rev. Gibson da Costa

sábado, 6 de novembro de 2010

Leitura do Evangelho de Hoje: Lucas 20:1-8

E ACONTECEU num daqueles dias que, estando ele ensinando o povo no templo, e anunciando o evangelho, sobrevieram os principais dos sacerdotes e os escribas com os anciãos, e falaram-lhe, dizendo: Dize-nos, com que autoridade fazes estas coisas? Ou, quem é que te deu esta autoridade? E, respondendo ele, disse-lhes: Também eu vos farei uma pergunta: Dizei-me pois: O batismo de João era do céu ou dos homens? E eles arrazoavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então por que o não crestes? E se dissermos: Dos homens; todo o povo nos apedrejará, pois têm por certo que João era profeta. E responderam que não sabiam de onde era. E Jesus lhes disse: Tampouco vos direi com que autoridade faço isto.

Today's Gospel Reading: Luke 20:1-8 (NRSV) Jesus' teaching authority

One day, as he was teaching the people in the temple and telling the good news, the chief priests and the scribes came with the elders and said to him, "Tell us, by what authority are you doing these things? Who is it who gave you this authority?" He answered them, "I will also ask you a question, and you tell me: Did the baptism of John come from heaven, or was it of human origin?" They discussed it with one another, saying, "If we say, 'From heaven,' he will say, 'Why did you not believe him?' But if we say, 'Of human origin,' all the people will stone us; for they are convinced that John was a prophet." So they answered that they did not know where it came from. Then Jesus said to them, "Neither will I tell you by what authority I am doing these things." 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

An Agnostic Christian?

[Originally here, in Portuguese: http://cristianismoprogressista.blogspot.com/2010/09/um-cristao-agnostico.html ]

Yesterday I saw an episode of one of my favorite TV programs, which perhaps many of you do not know: Cara & Coroa [=Younger Guy & Older Guy], on TV Brasil. If you do not know the show, my advice is for you to try to watch it one of these days. It is a very intelligent and inspiring show that deconstructs the artificial barrier between generations, presented by João Rocha Lima (the “Cara” [the younger guy]) and Milton Coelho da Graça (o “Coroa” [the older guy]).




Yesterday's episode (aired at 8 p.m.) discussed religion, and during a conversation between one of the presenters (Milton Graça) and one participant (Professor Gilbraz Aragão, from the Catholic University of Pernambuco), I heard this gem:



Milton Graça: Can you be religious without believing in God?

Prof. Gilbraz Aragão - after thinking for a while: I find it impossible to be deeply religious without at some point discrediting what has been called God.


With few words, a lot of maturity, and great sensibility, Professor Aragão was able to summarize all that many liberal Christians, all that many Unitarians, have been saying for a long time. It is impossible, in my personal experience, to develop an authentic, balanced, deep faith without going through moments of crisis and darkness, moments of disbelief and, perhaps, of deconstruction.


Many people may be confused when they hear me talk about my "disbelief." Often, to be provocative - which is a very prominent feature in my personality - I say I do not believe in God, and some who hear me think this is an open avowal of atheism. That happened recently after a sermon in my own religious community. However, every time I do this as a provocation, at the same time I reaffirm my faith in God's reality.


Since I believe words have great weight in the sense we produce out of theological claims, I like to emphasize my faith in the “Reality of God” and not in the “existence of God”. In my personal theology, these two expressions have a completely different meaning.


What would it mean to say that "God exists"? Existence is a quality we attribute to persons or things, obviously we can assign it to ideas and feelings as well - for example, we could say in Portuguese "there exists [“there is”, in English] a feeling of brotherhood among us”, and we would be talking about something subjective, but since we traditionally use this verb [to exist] to speak of God as a "person" separate from us, with an "objective existence" - at least, that is the impression I get when I hear "God exists" - I prefer to use an expression which does not carry in itself the weight of the usual concepts and notions and which does not find itself closely linked to ideas of absolute correction. That's why I do not say "God exists" but "God is Real" or "God is a Reality."


I am an unbeliever in the conceptions of God built by Christian orthodoxy. I do not believe in the notions of God taught by the great theologians of the Christian church, and, even being a Unitarian Christian, I do not believe in the concepts of God taught by some old Unitarians. In that personal God, the Almighty, who controls the history of the world, and who is able to save us from suffering, I do not believe. My life experiences, what I know about the universe of which I am a particle, and everything that happens in the world around me are strong evidence that that God “does not exist”. Or, if you want me to be more objective and less metaphorical, those "orthodox" ideas about God do not touch me, do not move me, and do not do that because they have become a mute language, a language used only to convince.


Despite this, however, I am a believer in the reality of God, who is present in many different ways and in many different moments in my life. I do not try to explain God to anyone, since I do not have that explanation. God must be experienced and understood in our experience, and not treated as if God were an object of scientific observation. God is Real. God is a Presence in my life, a Presence to which I cannot find words to describe and a Presence I refuse to define, but, even so, a Real Presence.

Rev. Gibson da Costa
(September 8, 2010)
Originally here, in Portuguese: http://cristianismoprogressista.blogspot.com/2010/09/um-cristao-agnostico.html