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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sobre a Ortodoxia (trechos) - James Freeman Clarke


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A maioria, em qualquer lugar, está apta a se chamar de ortodoxa, e a chamar seus oponentes de hereges. Mas a maioria em um lugar pode ser a minoria em outro. A maioria em Massachusetts é a minoria em Virgínia. A maioria na Inglaterra é a minoria em Roma ou em Constantinopla. O Arcebispo de Cantuária, o Primaz de toda a Inglaterra, deu ao senhor Curzon uma carta de apresentação ao Patriarca de Constantinopla, o líder da Igreja Grega. Mas o Patriarca nunca havia ouvido falar do Arcebispo de Cantuária, e perguntou: "Quem é ele?"

Todavia, é um argumento muito comum que tal e tal doutrina, sendo abraçada pela grande maioria dos cristãos, deve ser necessariamente verdadeira. "É possível", dizem, "que a grande maioria dos cristãos estivessem agora, e por muito tempo, em erro em uma doutrina tão fundamental como esta?" Até mesmo um homem tão inteligente quanto o Dr. Huntington, parece ter sido grandemente influenciado por este argumento ao se tornar trinitarista.

O mesmo argumento tem levado muitos protestantes à Igreja Católica. E, sem dúvida, há uma verdade no argumento - uma verdade, de fato, que está implícita em toda a obra presente - que doutrinas assim defendidas por grandes multidões durante longos períodos não podem ser completamente falsas. Mas isso não prova, de forma alguma, que sejam plenamente verdadeiras. De outra maneira, a verdade mudaria com a mudança da maioria. Em um século os arianos teriam estado certos. Ademais, a maioria dos que aderem a uma doutrina não a examinaram, e não têm nenhuma opinião definida concernente a ela. Eles a aceitam, como lhes é ensinada, sem refletir. E novamente, a maioria das verdades estão, no princípio, na minoria.

O Cristianismo, no primeiro século, estava em uma minoria muito reduzida. O Protestantismo, no tempo de Lutero, estava no cérebro e coração de um homem. Pensar, portanto, que a Ortodoxia, ou a verdadeira crença, seja aquela da maioria, é impedir todo progresso, censurar toda nova verdade, e resistir a revelação e inspiração de Deus, até que tenha conquistado para si o apoio da maioria da humanidade.

De acordo com este princípio, como o Cristianismo ainda é uma minoria quando comparada ao paganismo, todos nós devemos nos tornar seguidores de Boodh. Tal perspectiva não pode ser examinada seriamente nem por um momento. Todo profeta, mestre, mártir, e campeão heroico da verdade passou sua vida e ganhou a admiração e grato amor do mundo por oporem-se à maioria em favor de alguma verdade negligenciada ou impopular.

Clarke, James Freeman. 1866

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