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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Universalismo Cristão

Nossa comunidade tem tido experiências com outras comunidades de fé aqui em nossa região. Nossos jovens têm tido a oportunidade de visitar outras comunidades como templos budistas, hinduístas, e kardecistas, tivemos encontros com jovens judeus, muçulmanos, e estivemos semana passada em uma cerimônia do candomblé.

Para os jovens membros de nossa comunidade, experiências como estas são parte de sua preparação para se tornarem membros adultos. Dificilmente outras comunidades cristãs daqui do Recife e de outros lugares onde nossos membros moram incluiriam visitas a comunidades de fé não-cristãs como parte de suas aulas de confirmação. Mas nós encontramos grandes e valiosas lições em nossas visitas a outras comunidades de fé.

Mas isso nos leva a uma pergunta – e não apenas retórica, já que algumas pessoas têm me feito este questionamento. É correto um cristão afirmar e participar em outras tradições? O cristianismo não é exclusivo entre as religiões do mundo, a religião verdadeira e superior? Não é nosso dever converter outros a nossa fé correta?

A compreensão dominante do cristianismo vê nossa fé enraizada na verdade absoluta que supera todas as outras formas de fé religiosa. O Papa João XXIII, um de meus heróis, o Papa liberal que convocou o Concílio Vaticano II, uma vez disse: “A igreja não rejeita nada que for verdadeiro e santo em outras religiões”, mas ele acrescentou: “mas proclamamos sem falhar, que apenas Cristo é o caminho e a vida”. Eu devo dizer que discordo dessa perspectiva.

Outra perspectiva é bem oposta àquela visão tradicional. Ela diz que todas as religiões são iguais, baseadas na mesma regra de ouro. Então, não faz diferença que religião você segue – já que todas são a mesma coisa. Eu não creio ser esta a verdade também.

Eu sou o que se pode chamar de “cristão universalista”. O universalismo cristão defende que a mesma luz cruza todas as nossas janelas, mas que cada janela é diferente. As janelas modificam a luz – refratando-na de incontáveis maneiras, moldando-na de formas diferentes, sugerindo muitos significados.

O amor de Deus, a frase que uso para essa luz na base de todo ser, vem por meio de várias religiões de maneiras diferentes. Nenhuma religião pode capturar ou transmitir toda a luz.

Mas, e o que a Bíblia tem a dizer sobre isso? Os antigos hebreus não acreditavam em apenas um Deus? Não eram monoteístas que rejeitavam os deuses dos povos vizinhos? Bem, na verdade não. Eles eram henoteístas que acreditavam que Yahweh era seu Deus e eles eram leais a Yahweh apenas, mas eles não negavam a existência de outros deuses. Pensem nos 10 mandamentos: “Não terás outros deuses diante de mim”, o que implica que há outros deuses.

Freqüentemente os hebreus afirmavam que Yahweh, seu Deus, amava os povos de todas as terras, mesmo aqueles que adoravam outros deuses. Amós disse: “Deus não trouxe Israel da terra do Egito, e os filisteus de Caftor, e os arameus de Quir?”, ou de acordo com Isaías, Deus disse: “Bendito seja o Egito meu povo, e a Assíria a obra de minhas mãos, e Israel minha herança”.

Pedro tinha sido parte do movimento de reforma judaica de Jesus. Depois da execução de Jesus, Pedro ajudou a guiar o esforço em Jerusalém para manter aquele movimento vivo. Ele e os outros que continuaram no legado de Jesus permaneceram no judaísmo, adorando no Templo, honrando as tradições judaicas.

Uma narrativa do livro de Atos diz que Cornélio, um oficial romana que adorava o panteão de deuses romanos, era uma boa pessoa que teve uma visão mística dirigindo-o a Pedro. Então ele enviou mensageiros para chamar Pedro. Enquanto eles estavam a caminho, Pedro teve sua própria visão. Ouçam as palavras bíblicas:

Sentiu fome e quis comer; mas enquanto preparavam a comida, Pedro entrou em êxtase. Viu o céu aberto e uma coisa que descia para a terra; parecia uma grande toalha sustentada pelas quatro pontas. Dentro dela havia todo tipo de quadrúpedes e também répteis da terra e aves do céu. E uma voz lhe disse: “Levante-se, Pedro, mate e coma!” Mas Pedro respondeu: “De modo nenhum, Senhor! Pois jamais comi coisa profana e impura!” A voz lhe disse pela segunda vez: “Não chame de impuro o que Deus purificou”. Isso repetiu-se por três vezes. Depois a coisa foi recolhida ao céu. Pedro ficou muito perplexo e interrogava a si mesmo o que podia significar a visão que acabava de ter. Nesse momento, os homens enviados por Cornélio perguntaram pela casa de Simão e se apresentaram à porta. Eles chamaram e perguntaram se estava hospedado aí certo Simão, chamado Pedro.

Então Pedro foi para a casa de Cornélio e: “Vocês sabem que é proibido para um judeu relacionar-se com um estrangeiro ou entrar na casa dele. Deus, porém, mostrou-me que não se deve dizer que algum homem é profano ou impuro... De fato, estou compreendendo que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, seja qual for a nação a que pertença”.

Poderíamos ler: qualquer budista, qualquer hindu, qualquer espírita, qualquer umbandista, qualquer muçulmano, qualquer cristão?

Continuo a ser fascinado pela imagem de Platão em “A República” de prisioneiros acorrentados em uma caverna de forma que só podiam olhar para uma parede. Naquela parede, eles freqüentemente viam figuras dançando e saltitando. Como isso era tudo o que conheciam, eles pensavam que as imagens fossem a realidade, não sabendo que elas eram sombras criadas por objetos de madeira e pedra segurados por trás de uma parede baixa entre os prisioneiros e o brilho de fogo no fundo da caverna. Eles pensaram que o reflexo fosse a realidade.

Tudo o que vemos através das janelas do cristianismo ou do islã ou do hinduísmo é a luz refletida ou refratada do amor de Deus. Nenhuma delas tem toda aquela luz. E as janelas, as próprias religiões, não são a luz; elas são apenas o meio pelo qual a luz brilha. Não há um Deus cristão, um Deus hindu, um Deus muçulmano – há apenas compreensões cristãs, hindus e muçulmanas de Deus.

Quando nos dermos conta e aceitarmos que nenhuma religião tem toda a verdade e que a luz do amor de Deus atravessa muitas janelas diferentes, devemos então escolher uma das janelas como a nossa própria janela.

Em seu livro “Pensamentos em Solidão”, Thomas Merton descreve a imagem de uma roda. Muitos raios ligavam o aro ao centro da roda. Merton disse que nossos diferentes e incompletos vislumbres de Deus devem “convergir no Amor da mesma forma que os raios de uma roda convergem no centro da roda”.

Cada uma das religiões do mundo é um dos caminhos, um dos raios que levam a Deus, o centro. Penso que cada um de nós deve escolher um caminho e trabalhar diligentemente naquela tradição escolhida para descer pelo raio rumo ao centro, que é a luz do próprio amor de Deus. Não caminhamos acima daqueles em outras religiões; não caminhamos colidindo com eles; em vez disso, caminhamos lado a lado em nossos vários caminhos: cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, espíritas, umbandistas, hindus, lada a lado.

Sempre digo que meu coração é judeu, o lado direito do meu cérebro é muçulmano, e o lado esquerdo do meu cérebro é cristão. Mas eu me comprometi em caminhar neste caminho, neste raio, do cristianismo. Sou cristão por muitas razões, sendo uma delas o meio social. Se eu tivesse crescido na Arábia Saudita talvez eu fosse um devoto muçulmano, ou se tivesse passado toda a vida em Tel Aviv, talvez fosse um rabino. Eu poderia estar caminhando num raio diferente da roda, mas (espero) ainda estaria caminhando rumo ao mesmo centro.

Para mim, entretanto, a escolha de minha tradição religiosa é mais do que apenas por questões sociais. Surgiu do que Jesus, o mestre galileu, significa para mim em termos de seu ensino e do modelo de sua vida. Jesus viveu em plena abertura a Deus, respondendo ao que ele entendia ser a vontade de Deus, sendo transparente aos propósitos divinos, vivendo, assim, o amor divino na história humana. Isso não era uma questão de ter a mesma substância de Deus, ou ter duas naturezas, uma humana e a outra divina. O amor está encarnado na vida humana sempre que alguém agir com amor abnegado – e isso ocorreu na vida de Jesus de maneira marcante.

É assim que eu vejo Jesus. Não me sinto confortável em chamá-lo de “o” Cristo, “o único” ungido que revela o amor de Deus, mas me sinto confortável em chamá-lo de “um” Cristo, uma daquelas pessoas especiais que ligam a humanidade ao Espírito do amor de Deus.

Então, onde o universalismo cristão nos leva em termos de diálogo inter-religioso? Bem, acho que ele nos diz que nos juntemos em eventos inter-religiosos e em visitas a outras comunidades não para “sermos tolerantes” a outras opiniões religiosas, o que é paternalismo, mas que nos juntemos para que possamos aprender uns com os outros, para que possamos ver a refração da luz de Deus de novas formas que enriquecerão nossas compreensões e nossas práticas de nossa tradição escolhida.

A maneira judaica de passar as tradições a novas gerações é algo do qual o cristianismo poderia aprender muito. A compreensão budistas das dimensões interiores da vida humana e o desenvolvimento budista da meditação e de práticas espirituais é algo dos quais os cristãos podem aprender muito e com o qual o cristianismo pode ser muito enriquecido. O comprometimento e a fidelidade muçulmanas demonstradas todas as sextas-feiras, quando se reúnem em suas orações coletivas é algo que tem tocado minha vida profundamente, e que pode nos ensinar muito. Todos eles podem nos ensinar muito a respeito das dimensões da religião.

Para terminar, me volto a uma visão bíblica. Ezequiel, um profeta hebreu no século VII antes de nossa era, teve a visão de um rio saindo de Jerusalém. Primeiro era muito raso, depois se tornou um grande rio. Suas águas eram as águas de vida. Isso é o que as várias religiões são – as águas de vida, vindas de muitas afluentes diferentes, cada uma com uma sabedoria e beleza próprias, que correm para um único grande rio.

Rev. Gibson da Costa

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A Fé Progressista versus A Ilusão de Controle

Nunca pensei na igreja progressista como uma resposta à direita religiosa ou à igreja conservadora ou dogmática ou ortodoxa. Desde meus primeiros dias de seminário, sempre supus que a igreja progressista fosse uma resposta à verdade de Deus como revelado em Jesus e em outros mestres e profetas iluminados. É uma resposta ao lento desvendar dos segredos do universo que continuam a expandir nossa compreensão dos temas bíblicos, do Jesus histórico e do desenvolvimento das religiões em geral. Sempre supus que a igreja progressista fosse tanto uma resposta à verdade quanto uma busca pela mesma. Em outras palavras, uma igreja progressista está baseada na aceitação de uma fé progressista.

Progresso por definição significa “marchar adiante”. Obviamente isto implica mudança, transição ou a necessidade de revisar nosso pensamento. Progresso sempre significa mudança, e mudança raramente é fácil, especialmente quando estamos lidando com assuntos subjetivos e mesmo sagrados em nossas vidas.

A verdade é que o movimento cristão, ou o que agora chamamos de igreja, foi sempre progressista. Jesus e seus seguidores eram agentes de mudança, e foi isto que lhes meteu em encrenca. De acordo com o autor do Evangelho de Marcos, Jesus disse: “A lei do Sábado foi feita para a humanidade e não a humanidade para a lei do Sábado”, quando ele intencionalmente quebrou a sagrada lei do Sábado de sua religião. É difícil para nós entendermos como disputar a respeito disso seria difícil para pessoas de seu tempo. Você pode ter uma idéia, entretanto, se for para Israel hoje e quebrar a lei do Sábado. Jesus curou no Sábado, ele comeu com os chamados “impuros”, e confrontou os poderes e principados de sua cultura, assim como sua religião. Ele exigia mudança no sistema de crença religiosa de seu povo se este fosse injusto ou opressor àqueles que eram banidos ou marginalizados.

É difícil para eu entender como bons fundamentalistas bíblicos deixam isso passar. Penso ser cômico, por exemplo, quando bons cristãos me contam quão mal se sentem a respeito de gays e lésbicas, mas, o que podem fazer? Sempre dizem com tristeza: “Você sabe o que a Bíblia diz”. Bem, vou lhes contar o que a Bíblia me diz. Quando alguma lei, seja ela de Moisés ou algum sacerdote de Levítico, for injusta ou opressiva a uma minoria, ela deve ser ignorada ou mudada. Foi isso que Jesus fez, e ele entregou sua vida por isso. E é isso que a igreja que segue Jesus de Nazaré deve fazer. Não vejo nenhuma outra forma de ler isto. Mas sempre que confrontamos o status quo de qualquer coisa, estamos pedindo encrenca; e se as diferenças forem suficientemente grandes, as conseqüências podem ser ameaçadoras (podem chegar a ameaçar vidas, inclusive).

Mesmo Paulo foi por definição progressista em sua teologia para o seu tempo. Em sua carta aos Gálatas, Paulo toma a posição de que como cristãos não somos mais escravos da lei mas escravos do amor, uma declaração surpreendente e progressista para um judeu de sua época.

A antiga igreja era conhecida por sua vasta variedade de interpretações dos eventos de Jesus, algumas das quais estão refletidas em nossos evangelhos hoje. Por toda a história numerosos renomados teólogos e sábios progressistas, pessoas de muita fé, têm tido perspectivas da fé cristã que são muito diferentes daquelas mantidas pela igreja cristã normativa. Infelizmente, a maioria deles foram considerados hereges e foram aprisionados, mortos, ou forçados a se retratar. Infelizmente, seus estudos e escritos foram frequentemente escondidos ou destruídos. Bispo Ário, no século III, Meister Eckhart no século XIV e D.F. Strauss no século XIX são só alguns das dezenas de outros.

Hoje enfrentamos o mesmo desafio que enfrentaram aqueles que já se foram. O que consideramos crença, conhecimento e fé?

O teólogo Karl Rahner uma vez escreveu: “...o que é chamado de conhecimento na fala cotidiana, é apenas uma minúscula ilha em um vasto mar que ainda não foi explorado... Assim, a questão existencial para o conhecedor é esta: O que ele ama mais, a minúscula ilha de seu assim chamado conhecimento ou o mar de infinito mistério?

Karl Rahner escreveu isso muito antes da física quântica, da descoberta dos buracos negros, e da maioria das descobertas de que cerca de 90% do universo pareça estar em dimensões que nunca podemos ver.

A questão se torna então, amamos a minúscula ilha de conhecimento mais ou nos importamos em navegar no “mar de infinito mistério”? É muito mais fácil, e certamente mais confortável ficar na minúscula ilha de conhecimento e ser um especialista em um paradigma familiar do que se aventurar no desconhecido.

Talvez essa seja a razão pela qual o renomado teólogo Karl Rahner tenha escrito: “Teologia significa levar encrenca racional ao mistério”.

I.I. Mitroff e W. Bennis, dois sociólogos, escreveram um livro em 1989 chamado “A Indústria da Irrealidade” (The Unreality Industry). Eles sugerem que a “dialética fundamental de nossos tempos é entre a realidade e a irrealidade, especialmente agora que temos poder de influenciar e criar ambos”. A razão por estarmos criando “realidades substitutivas”, eles argumentam, é que o mundo se tornou tão complexo que “ninguém ou nenhuma instituição pode plenamente entendê-lo ou controlá-lo”.

“Se os humanos não podem controlar as realidades com as quais se deparam, então eles inventarão irrealidades sobre as quais possam manter a ilusão de controle”. A questão é, eles escrevem, temos a coragem de enfrentar direta e honestamente as complexas realidades que somos capazes de criar e descobrir ou nos afastaremos da realidade e investiremos nossa energia na negação da realidade? Pergunto-me como as palavras desses dois estudiosos poderiam se aplicar às religiões de nossos dias. Tem algo a ver com o que tem sido chamado de movimento fundamentalista nas religiões do mundo hoje? Tem algo a ver com a religião neste país hoje?

Uma fé progressista é aquela que está disposta a desafiar as suposições e testar o paradigma sob o qual operamos. Ela não tem medo de fazer perguntas difíceis e de admitir a dúvida.

Como argumentam Bennis e Mitroff, a maioria de nós se sente desconfortável com coisas desconhecidas e mistérios, então criamos irrealidades para preencher os espaços em branco. Queremos sentir que estamos sobre bases sólidas. Não apenas queremos saber onde está o caminho, mas também aonde ele leva.

Hoje, em nosso mundo multi-cultural, em nossa economia interdependente, numa era com buracos negros, física quântica, e quarks, quando se nos diz que não há tempo ou espaço, podemos nos sentir muito vulneráveis. Temos muita dificuldade em identificar uma base sólida ou uma senda iluminada. É compreensível que as pessoas queiram simplificar seu pensamento. Uma religião progressista, como uma fé progressista, não é uma senda fácil pois pode questionar o próprio chão sobre o qual pensávamos estar caminhando.

O ponto é que é sempre mais fácil não questionar ou duvidar. É geralmente mais fácil ignorar a verdade se ela requer que mudemos. Frequentemente será mais fácil permanecermos no mesmo lugar.

Este é um tempo excitante no qual vivermos. Creio que se seguirmos o exemplo de Jesus, e deixarmos de lado a necessidade de dogma ou de sistemas de crença inflexíveis, e se aprendermos a nos mover com o fluxo do espírito, poderemos ter a dinâmica experiência de sermos lançados no “mar de infinito mistério”.

A fé progressista pode ser assustadora, mas sempre será excitante.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Uma Narrativa da Criação Para O Terceiro Milênio

No princípio, Deus. Não havia espaço, e o tempo não tinha ainda começado. Então Deus disse: “Que haja um cosmos!”; então houve um cosmos, menor que um grão de terra. E Deus viu que o cosmos era bom; e nele Deus separou o espaço do tempo, e fez com que ambos crescessem. O espaço era muito quente, e Deus o preencheu de quarks, gluóns, elétrons, fótons, e outras criações. E houve um princípio e um crescimento, o primeiro estágio.

E Deus disse: “Que haja luz!”; e com o crescimento do espaço, ele esfriou, e os quarks e gluóns condensaram como o orvalho nos prótons e nêutrons, e enquanto o espaço se expandia ainda mais, os prótons e nêutrons e elétrons condensaram em átomos de hidrogênio e hélio, e então não havia mais elétrons livres para prender os fótons, e os fótons se tornaram luz. E houve contínuos princípio e crescimento, o segundo estágio.

Como o espaço continuou a crescer, ele se tornou muito frio. E Deus disse: “Que os átomos se juntem, e que estrelas e galáxias apareçam!”; e ondulações no espaço fez com que os átomos se juntassem e se tornassem estrelas, e estrelas se tornassem galáxias. E enquanto o espaço prensava os átomos juntos para formarem estrelas, as estrelas se tornaram mais quentes que a mais quente fornalha, e o hidrogênio foi cozido para fazer o hélio, e o hélio para fazer outros elementos, e desta forma foi toda a matéria criada. E Deus viu que era bom. E houve contínuos princípio e crescimento, o terceiro estágio.

Então Deus disse: “Que haja planetas, não tão quentes quanto as estrelas, mas não frios como o espaço, cada um aquecido por uma estrela!”; e as ondulações no espaço fizeram com que algumas estrelas juntassem nuvens de poeira, e as nuvens de poeira dessem origem a planetas, e os planetas a se moverem em órbitas ao redor de suas estrelas. Já que os planetas não eram quentes, seus átomos se combinaram em moléculas, criando coisas dos mais diferentes tipos. E uma estrela em uma galáxia se chamava “Sol”, e um planeta pertencente ao Sol se chamava “Terra”. E Deus viu que era bom. E houve contínuos princípio e crescimento, o quarto estágio.

Quando foi formada, a Terra era um lugar de caos. Ao mover-se o Espírito de Deus por sobre o caos, Deus disse: “Que terra seca apareça”. E a água sobre a Terra se juntou para formar mares e oceanos, e a terra seca formou continentes. Então Deus disse: “Que a vida surja na Terra”. E algumas moléculas capazes de auto-reprodução se desenvolveram, e estas eventualmente evoluíram até se tornarem criaturas unicelulares. Destas vieram todas as plantas dos oceanos e da terra seca, todos os peixes do mar, todos os pássaros do ar, e todos os animais da terra seca. E Deus viu que era bom. E houve contínuos princípio e crescimento, o quinto estágio.

Então Deus disse: “Façamos a humanidade à nossa imagem e semelhança”. E Deus selecionou criaturas parecidas com o que desejava que a humanidade fosse, e destes surgiram novas criaturas chamadas Homem e Mulher. Deus abençoou o Homem e a Mulher, e Deus deu-lhes o cuidado e responsabilidade sobre a parte do cosmos de Deus chamada de Terra. Deus viu tudo que tinha feito, e era muito bom. E houve contínuos princípio e crescimento, o sexto estágio.
(Escrito pelo Dr. Derek Pursey - professor emérito de física na Universidade do Estado de Iowa/Iowa State University, Agosto de 1998 - Associação Presbiteriana de Ciência, Tecnologia e Fé Cristã)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Igreja de Paz - Declaração de Bienenberg


Nos reunimos como cristãos de muitas igrejas e comunidades em Bienenberg, próximo a Basiléia (Suiça), de 28 a 30 de Maio de 1999, para celebrar o quinquagésimo aniversário do Movimento da Igreja de Paz.


Nos reunimos num tempo de muitas crises e guerras severas em muitas partes do mundo. Estamos chocados pelo bombardeio da Iugoslávia pela OTAN e pela expulsão de muitos habitantes do Kosovo pela Iugoslávia.


Como discípulos de Jesus, estamos aprendendo o que significa viver como igrejas de paz. Descobrimos ser isto tanto desafiador quanto é enriquecedor, e convidamos outros cristãos a tomarem parte nesta vida e visão. Em nossa experiência, igrejas de paz têm cinco características:


1. Proclamação do evangelho de paz.


Anunciamos as boas novas de Deus de reconciliação e paz (2 Coríntios 5:19) através de Jesus Cristo, que é nossa paz (Efésios 2:14). Recebemos isto gratuitamente, como dom de Deus. Nós mesmos somos pessoas necessitadas, e oferecemos estas boas novas sem condições a todas as pessoas necessitadas, incluindo aquelas que se sentem marginalizadas e desamparadas (Marcos 2:17).


2. Amor a todos os seres humanos – mesmo os inimigos.


Aprendemos através de Jesus Cristo a amar nossos inimigos e a orar por eles (Mateus 5:44), mesmo quando somos chamados a resistir não-violentamente a suas ações injustas. Éramos inimigos de Deus (Romanos 5:8) e permanecemos cúmplices de um mundo pecaminoso, mas Cristo nos reconciliou com Deus e uns com os outros, e nos convidou a buscarmos reconciliação com todas as pessoas. Queremos construir pontes de entendimento e paz para aqueles que nós e nossas nações chamamos de inimigos.


3. Rejeição da Violência.


Portanto, estamos aprendendo primeiro a reconhecer e rejeitar nossa própria violência. Recusamos usar violência pessoalmente ou justificar o uso de violência como um instrumento de poder, seja no nível familiar, social, nacional ou internacional. Buscamos aprender e praticar as habilidades e disciplinas da transformação de conflito não-violento, e treinar outros nisso.


4. Compromisso com as vítimas de violência.


Estamos determinados a não fecharmos nossos olhos aos horríveis sacrifícios que a violência exige. Como Jesus em seu tempo ficou ao lado das vítimas da opressão e violência, nós também nos comprometemos a ficar do lado das vítimas de hoje. Buscamos ser parceiros confiáveis dos oprimidos mesmo em situações de grande perigo.


5. Comunidade e solidariedade.


Para realizar esta visão, precisamos uns dos outros, em nossas congregações e comunidades, e em solidariedade com outros cristãos em todo o mundo. Nossa cidadania está no “céu” (Filipenses 3:20), e somos o Corpo de Cristo (1 Coríntios 12:27). Portanto, todos os laços de nacionalidade, etnia e terra – mesmo sendo eles importantes – foram relativizados. Buscamos ser uma expressão social do novo mundo de Deus sociedades alternativas em cujo clima a justiça, a paz, a misericórdia e a verdade florescerão. Convidamos outros a compartilharem esta visão conosco e a descobrir sua realidade em suas próprias congregações e comunidades.


18 de Junho de 1999.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Candidatos oficiais e os escândalos nacionais

“Diante das denúncias na CPI da máfia das ambulâncias, é inadmissível o silêncio de lideranças que proclamam com estardalhaço a presença evangélica em períodos eleitorais”
O Seguinte texto é de autoria de Alexandre Brasil Fonseca, tendo sido publicado em 12/08/2006 em "Teologia Brasileira" (Edições Vida Nova). Por o tema ser de grande importância, resolvi postá-lo aqui.

Dos 72 parlamentares denunciados pela CPI da máfia das ambulâncias, quase 40% (28) se proclamam “deputados evangélicos” e 36% (26) participam da Frente Parlamentar Evangélica, segundo folheto distribuído pelo gabinete de seu presidente, o deputado (também denunciado) Adelor Vieira (PMDB-SC) e que é composta por 60 parlamentares. Quase 15% de todos os deputados foram denunciados, enquanto entre os parlamentares evangélicos – que ocupam cerca de 11% das cadeiras do Congresso Nacional – esta cifra chega a impressionantes 45%. Praticamente a metade da bancada dos evangélicos parece ter se envolvido no escândalo dos sanguessugas.

O problema não reside exatamente na confissão religiosa professada, mas pelo fato de que boa parte deles acionou suas redes e estruturas eclesiásticas em sua atuação político-eleitoral, a qual, desde a bancada evangélica na Constituinte de 1986, tem se tornado cada vez mais significativa no cenário eleitoral e partidário brasileiro.

Ser deputado evangélico representa atuar diretamente com a comunidade religiosa e ter a sua campanha potencializada por intermédio da concentração de mídia vertical que as igrejas possuem. Candidatos oficiais são apoiados pelas lideranças eclesiásticas, e, dessa forma, toda ação eleitoral fica semelhante a uma pescaria no aquário. Isso ocorre pelo acesso facilitado desses candidatos aos eleitores, os quais consideram seriamente a questão de “representante de grupo” para a votação proporcional.

Também merece destaque o fato de que algumas denominações destacam-se nesta lista, especialmente igrejas que criaram coordenações políticas com o objetivo de organizar sua atuação eleitoral e também, espero, na perspectiva de desenvolver um diálogo republicano com o Estado. A Igreja Universal do Reino de Deus é a que mais se destaca. Praticamente todos os parlamentares da denominação se encontram envolvidos. Dos 16 deputados em exercício apoiados pela denominação, 13 figuram na lista de denunciados pela CPI. Soma-se a eles Carlos Rodrigues, ex-deputado e ex-coordenador político da igreja, que, após renunciar devido ao seu envolvimento no mensalão, acabou preso em função deste novo escândalo e é o parlamentar que mais figura como investigado em CPIs nesta legislatura. Cerca da metade dos deputados apoiados pela Assembléia de Deus e pela Igreja Quadrangular são citados, assim como o único deputado da Igreja Internacional da Graça de Deus.

Num fórum da internet no portal da Igreja Universal é possível encontrar tópicos em que fiéis lamentam e se questionam sobre o envolvimento dos parlamentares ligados à igreja. Também se questiona o silêncio da liderança denominacional e são exigidas respostas. É provável que o envolvimento desses evangélicos nos escândalos tenha como conseqüência a diminuição da bancada parlamentar da Universal, a qual tem crescido significativamente a cada legislatura desde o primeiro eleito, em 1986.

Esses parlamentares e as lideranças evangélicas precisam vir a público e expressar posição clara e firme sobre este assunto para o conjunto da sociedade, seja em seus jornais, emissoras de rádio ou TV e na grande imprensa. É preciso apresentar explicações e aproveitar este momento para uma avaliação crítica dos limites e das implicações que representam o fato de uma agremiação religiosa possuir “candidatos oficiais”.

Esses deputados foram eleitos com o apoio oficial dessas lideranças, e, portanto, estas têm parcela de responsabilidade em sua atuação parlamentar. Já os fiéis merecem esclarecimentos ainda maiores. Foram eles os acionados no sentido de apoiar os “candidatos oficiais”. São, além de eleitores, “irmãos de fé” desses parlamentares e de seus líderes religiosos, e é inadmissível que tenhamos o silêncio das tais lideranças que proclamam com estardalhaço a presença evangélica em períodos eleitorais.

O envolvimento dos parlamentares evangélicos neste novo escândalo também parece representar um bom momento para uma revisão da atuação político-eleitoral recentemente disseminada entre as igrejas evangélicas, a qual se inspira no modelo assumido pela Universal, primeiramente. Os últimos acontecimentos parecem indicar que esta não é a postura mais adequada para uma inserção política das igrejas evangélicas. Não há motivo para se negar a importância e a legitimidade de participação deste grupo na vida pública e política nacional. A questão que se coloca é em relação às motivações e ao formato em que se dá esta participação.

As igrejas são importantes atores, e possuem significativa capilaridade social. Uma participação ativa e consciente dos seus fiéis pode representar importante contribuição para a consolidação democrática brasileira. É preciso avançar, tanto nas apurações do Ministério Público como no trabalho desenvolvido na CPI, além de termos maior visibilidade e disseminação de informações sobre estas investigações e seus resultados. Assim, provavelmente, teremos melhores eleitores como também melhores parlamentares, sejam eles evangélicos ou não. Não é tempo para cinismo, mas de maior participação, tanto no voto quanto no acompanhamento dos eleitos. Tal postura deve resultar na intensificação e no aperfeiçoamento do controle social. A democracia é um aprendizado, e mesmo com esses percalços, é o melhor caminho que se pode trilhar.

Alexandre Brasil Fonseca é sociólogo, doutor em Sociologia pela USP e professor do Laboratório de Estudos da Ciência do NUTES na UFRJ. É conselheiro do Conselho Nacional de Políticas Públicas para a Juventude do Governo Federal, assessor do programa “Fé, Economia e Sociedade” do CLAI, coordenador geral do FALE, rede de defesa de direitos, e membro representante da América Latina no comitê diretivo da International Association for the Promotion of Christian Higher Education.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Lecionário Para o Mês de Dezembro de 2007

2 de Dezembro de 2007 – 1º Domingo de Advento (Ano A)
(Azul ou Púrpura)

Isaías 2:1-5
Salmo 122
Romanos 13:11-14
Mateus 24:36-44

9 de Dezembro de 2007 – 2º Domingo de Advento (Ano A)
(Azul ou Púrpura)

Isaías 11:1-10
Salmo 72:1-7, 18-19
Romanos 15:4-13
Mateus 3:1-12

16 de Dezembro de 2007 – 3º Domingo de Advento (Ano A)
(Azul, Púrpura ou Rosa)

Isaías 35:1-10
Salmo 146:5-10 ou Lucas 1:47-55
Tiago 5:7-10
Mateus 11:2-11

23 de Dezembro de 2007 – 4º Domingo de Advento (Ano A)
(Azul ou Púrpura)

Isaías 7:10-16
Salmo 80:1-7, 17-19
Romanos 1:1-7
Mateus 1:18-25

24 de Dezembro de 2007 – Véspera de Natal (Ano A)
(Branco)

Isaías 9:2-7
Salmo 96
Tito 2:11-14
Lucas 2:1-20

25 de Dezembro de 2007 – Natal (Ano A)
(Branco)

Isaías 52:7-10
Salmo 98
Hebreus 1:1-12
João 1:1-14

30 de Dezembro de 2007 – 1º Domingo depois do Natal (Ano A)
(Branco)

Isaías 63:7-9
Salmo 148
Hebreus 2:10-18
Mateus 2:13-23


(Lecionário Comum Revisado - o mesmo usado na maioria das igrejas protestantes de língua inglesa e na Igreja Comunitária Cristã do Recife)

A Questão da Divindade de Jesus de Nazaré



Ao se considerar a questão da divindade de Jesus, a primeira coisa que deveríamos fazer é tentar declarar claramente a doutrina ortodoxa. Mas isto não é tão fácil como você pode pensar. Mesmo entre as pessoas que se consideram como tendo uma crença perfeitamente ortodoxa na Trindade e na Encarnação, há muita confusão a respeito do que estas coisas significam. Isso não deveria ser uma surpresa, já que a doutrina de Jesus como "Deus, o Filho" inclui ou nuanças muito boas ou (ao se aprofundar no seu ponto de vista) uma boa dose de contradição e imprecisão.


Entretanto, preciso confessar que fico admirado com o dogma ortodoxo, particularmente à luz da visão de mundo, a filosofia grega e os debates doutrinários que serviram como seu pano de fundo. Não penso que seja necessário ou de nenhuma ajuda para nós hoje, mas o admiro como a melhor resposta possível às necessidades doutrinárias de seus dias.


Se o extrairmos da linguagem filosófica grega na qual esse dogma foi primeiramente construído, podemos declarar a posição ortodoxa assim: "Há um Deus, um ser divino. Esse Deus único, entretanto, tem três aspectos, ou se apresenta como três "pessoas": o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Essa é a Trindade, o Deus único triúno (três-em-um). A segunda pessoa da Trindade é chamada de Deus o Filho ou o "Logos" (a palavra grega frequentemente traduzida como "a Palavra", como em João 1). Como um aspecto de Deus, o Logos tem existido desde o início, e no nascimento de Jesus de Nazaré se tornou encarnado nesse ser humano. Nesse indivíduo havia uma natureza verdadeiramente divina e também uma natureza verdadeiramente humana. A humana não se tornou divina, nem a divina humana, nem as duas se misturaram, mas ambas estavam nessa única pessoa. Nem podemos dizer que a natureza divina em Jesus fez uma coisa e a natureza humana fez outra, pois todas as ações e experiências foram daquele único indivíduo, Jesus Cristo, tanto humano quanto divino".


Essa formulação satisfez muitas exigências. Primeiro, no tempo em que foi formalmente adotada havia já uma longa tradição de adoração a Cristo. Isso, claro, exigia que ele fosse divino.

Segundo, cumpriu as exigências da maioria das doutrinas contemporâneas a respeito da salvação. Essas dependiam ou (1) do sacrifício expiatório de um ser perfeito a nosso favor, ou que (2) o incorruptível e eterno tivesse entrado em nossa carne corruptível e finita. A primeira exigia que Jesus, que foi crucificado, fosse divino; a segunda exigia que Deus se tornasse humano. A Encarnação satisfazia essas duas exigências.


Terceiro, as Escrituras parecem falar de Jesus em muitos exemplos como humano, mas em outros casos como divino. A Doutrina da Encarnação permite que ambos sejam verdade.


Quarto, se pensava no mundo filosófico greco-romano que Deus era imutável e que não pudesse sofrer. Ao postular-se a existência de duas naturezas nessa única pessoa, a Doutrina da Encarnação permitia que se dissesse que o sofrimento de Jesus, como registrado nos Evangelhos, foi experimentado por essa pessoa humana-e-divina através de sua natureza humana, o que evitava um conflito com a sabedoria prevalecente do tempo.


Assim, a Encarnação satisfazia as necessidades do tempo - no que tange ao culto, soteriologia, e missão - de uma forma não incompatível com a Bíblia. Ela representa uma conquista teológica marcante.

Essa doutrina da natureza de Jesus de Nazaré não foi firmemente fixada até o Concílio de Calcedônia em 451. Todavia, desde os fins do primeiro século parece ter sido geralmente aceito pela Igreja que Jesus era divino de uma forma ou de outra. Além disso, a própria formulação calcedônica tem agora mais de quinze séculos de mandato. Sendo assim, uma das duas reações comuns a ela (quando as pessoas se dão o trabalho de pensar a respeita dela) é:


"Como alguém pode duvidar do consenso da Igreja, desenvolvido nos primeiros anos da fé das testemunhas bíblicas, confirmado nos ensinos dos mestres e santos através dos séculos, e testada nas vidas de milhões de fiéis?"


Entretanto, a outra reação comum à Doutrina da Encarnação reage à sua antiguidade de outra forma:


"Como pode alguém prestar qualquer atenção a uma doutrina que surgiu de um sistema de conceitos gregos sendo imposto às Escrituras judaicas, que era tão estranho a Jesus como é para nós, que depende de conceitos e de um senso comum que há muito seguiram o rumo do Império Romano, e que é tão difícil de compreender?"


Ambas as reações são extremas, claro. E ambas exigem muito de nós. A primeira nos pede que não pensemos sozinhos, enquanto a segunda nos pede para ignorar o passado e nem mesmo considerar crenças que ainda são abraçadas por muitos cristãos contemporâneos. Independentemente de você compartilhar minha admiração pela doutrina ortodoxa ou não, temos de reconhecer que ela representa uma compreensão de Deus e de Jesus que não apenas tem tido a lealdade da vasta maioria dos cristãos na história da Igreja, mas que também tem se provado como uma doutrina que pode ajudar as pessoas a levarem vidas fiéis seguindo os ensinos e exemplo do Cristo. Somente pelas razões mais graves, e somente com um senso apropriado de admiração, pode alguém ousar desafiar esta compreensão tradicional.

As razões são muito graves. Então, apesar de minha trepidação, e em admiração à tradição, e sabendo que isso dá a impressão de audácia quando o que eu sinto é na verdade uma obrigação que não posso evitar, sou impelido por minha compreensão (o tanto quanto sou capaz) de elevar este desafio. Sou um servo ou mesmo um prisioneiro da verdade que sinto, à qual não tenho escolha a não ser prestar testemunho. E ao fazê-lo, acho necessário desafiar a doutrina ortodoxa da divindade de Jesus de Nazaré, o Cristo. Faço isso baseando-me em quatro pontos:


(1) A doutrina ortodoxa não é mais bíblica que algumas outras interpretações a respeito da natureza de Jesus, e é na verdade menos bíblica que algumas.


(2) Mesmo se essa doutrina já fez sentido aos herdeiros filosóficos de Platão e Aristóteles, não faz mais sentido para nós. Não estou apenas dizendo que seja difícil de entender. Estou dizendo que não pode ser dita com significado algum, que é impossível.


(3) Se pudesse fazer sentido, o que não pode, seu significado violaria nosso senso comum.


(4) E por último, essa doutrina é desnecessária. É desnecessária para a mensagem de Jesus ou para a centralidade de Jesus. Além do mais, para algumas pessoas ela, na verdade, serve de empecilho para que recebam a mensagem.


1. A Doutrina Ortodoxa Não É Exigida Pela Bíblia


Quando os padres da Igreja estavam formulando sua Cristologia, eles eram coagidos pelo fato de serem literalistas bíblicos. Por eles suporem que todas as referências escriturísticas tocantes a Jesus fossem factualmente verdadeiras, tiveram que idealizar uma doutrina de sua natureza que estivesse em harmonia com todas essas diferentes passagens. Já que às vezes se fala de Jesus em termos muito humanos, e às vezes divinos, a única solução foi concebê-lo como sendo, de alguma forma, uma combinação de humano e divino.


Contrastando com isso, o fato verdadeiro (e libertador) é que nós não temos no Novo Testamento uma única, monolítica interpretação de Jesus. Ao contrário, temos uma diversidade de interpretações. A respeito disso o Novo Testamento demonstra tanto a unidade no que é essencial quanto a liberdade nas interpretações que são apropriadas à Igreja Cristã.


Os Evangelhos são unânimes a respeito da centralidade de Jesus, o Cristo: sua importância central para a nossa compreensão de Deus e como nossa norma para viver com uma relação correta com Deus. Mas enquanto eles concordam a respeito dessa centralidade, os diferentes autores do Novo Testamento têm maneiras diferentes de conceitualizá-la e explicá-la. Mateus vê Jesus como um "super-profeta", o homem escolhido por Deus para cumprir as profecias da Bíblia Hebraica, na tradição de Moisés e Elias, mas os ultrapassando em importância e autoridade como a culminação da linha profética. Marcos e Lucas diferem de Mateus em ênfase: Marcos retrata Jesus como um Messias discreto, escolhido por Deus para inaugurar o Reino de Deus, enquanto Lucas enfatiza mais claramente a missão de Jesus de trazer o evangelho aos povos de todas as nações.


João é o único Evangelho a retratar Jesus como sendo diferente em natureza dos profetas, como mais que o ponto culminante da sucessão do povo chamado por Deus e comissionado com tarefas especiais. Especialmente no prólogo (João 1:1-18), é claro que o autor do Evangelho de João considera Jesus como sendo mais que humano. Ele compartilha, de alguma forma, na divindade, mas de uma maneira que não é muito clara, e que parece dever muito à "literatura da sabedoria" judaica (Provérbios 8:22-31). Jesus era pré-existente como o "Logos", que é traduzido como "verbo/palavra" mas que significa muito mais que isso. O Logos é divino ("era Deus"), mas não é a Deidade ("estava com Deus"). O próprio Jesus é descrito como tendo declarado sua unidade com Deus, mas quando ele está vivo sempre declara esta mesma unidade com os seus discípulos. Então em resumo, enquanto João considera Jesus como sendo mais que humano, não é claro o que exatamente ele tem em mente.

Paulo, como de costume, diz diferentes coisas em diferentes lugares. Em Romanos 1:4 ele diz que Jesus foi "constituído Filho de Deus . . . através da ressurreição dos mortos". Isso implica numa "Cristologia adocionista" -- ou seja, que Jesus foi um homem mortal que depois de sua fiel obediência até a cruz, foi então constituído (adotado) Filho de Deus. Em Filipenses 2:5-7, entretanto, ele diz que Jesus "tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus, mas pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens". Isto tem muitas interpretações possíveis, mas todas apontam para um Jesus pré-existente que era mais que humano e de alguma forma "igual" a Deus. Em Colossenses 1:15-16, Paulo reafirma a pré-existência de Jesus com palavras que (como no prólogo do Evangelho de João) ecoam a literatura da sabedoria, como ele sendo aquele através do qual todas as coisas foram criadas.


A carta não-Paulina aos Hebreus também afirma isto a respeito de Jesus, e vai além, dizendo que ele "é a irradiação da sua [de Deus] glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo" (Hebreus 1:3). Mas o autor fala de Jesus não como Deus, mas como filho e herdeiro, estando acima dos anjos. O que nós temos aqui é uma "escada de ser" não muito incomum nos tempos antigos: há Deus no topo, com os seres humanos abaixo de Deus mas acima de todos os outros animais, e há também seres acima dos humanos. Os anjos, por exemplo, cairiam nesta categoria. Eles são mais divinos que nós, mas menos divinos que Deus. O que Hebreus faz (e talvez João e Paulo também) é colocar Jesus próximo ao topo desta hierarquia, abaixo de Deus mas acima dos anjos e de todo o resto.


Agora, se você perguntasse qual dessas é a posição bíblica a respeito da natureza de Jesus de Nazaré, a resposta seria "nenhuma delas". Cada uma delas representa uma alternativa bíblica para explicar a importância central de Jesus. E já que não temos o peso da necessidade de surgir com uma boa interpretação que incorpore todas elas - como os literalistas - somos livres para escolher sozinhos aquela que melhor nos ajude a entender Jesus e a responder à sua mensagem. Na verdade, nós podemos ir além disso. Já que é constante no Novo Testamento a centralidade de Jesus e de sua mensagem, e não qualquer explicação do por quê e como ele é central, somos então livres para interpretar essa centralidade de uma maneira que preencha as necessidades do nosso próprio tempo e de nosso próprio senso comum, desde que permaneçamos compatíveis com o ímpeto básico do ensino de Jesus.


Na verdade, apenas se permitirmos a introdução de outras conceitualizações não-bíblicas, podemos aceitar as doutrinas ortodoxas da Trindade e da Encarnação como opções cristãs legítimas. Pode-se argumentar que essas doutrinas representam o desenvolvimento de idéias bíblicas, mas nenhuma delas pode ser encontrada na Escritura em sua forma ortodoxa. Obviamente, se permitirmos um grupo de interpretações que seja desenvolvido das posições encontradas no Novo Testamento, então devemos permitir outras também, desde que elas sejam compatíveis com a mensagem de Jesus.


2. A Doutrina Ortodoxa É Impossível


A doutrina da Encarnação, que Jesus de Nazaré era completamente Deus e completamente humano, é simplesmente impossível. Ela não faz sentido. As palavras não podem se juntar dessa maneira sem fazer violência a seu significado e às regras da lógica.


Ser humano é ser finito, limitado em conhecimento, falível, e imperfeito. Ser humano também significa estar ciente de sua finitude, e de sua separação dos outros e de Deus - às vezes dolorosamente ciente. Se Jesus foi humano, então ele foi tudo isso - e é dessa forma que os Evangelhos descrevem-no, experimentando a raiva, fatiga, incerteza, relutância, dor e mesmo a morte.


Ser Deus - não apenas compartilhar uma faísca do divino, e não apenas ser à imagem de Deus, e nem ser menos divino como os anjos, ou qualquer das outras subversões possíveis da doutrina ortodoxa, mas realmente ser Deus - em qualquer compreensão cristã, significa ser eterno e ilimitado, ser perfeito em amor e compreensão. Agora, ou Jesus de Nazaré foi limitado, falível e imperfeito, ou ele foi ilimitado, infalível e perfeito. Esses dois grupos de atributos são opostos um ao outro. Você não pode ser as duas coisas; ele foi ou uma coisa ou outra. Não se pode dizer que uma pessoa foi os dois.


"Ah!" alguém dirá. "Este é o paradoxo" Não, não é um paradoxo. Este é um ponto muito importante, então por favor observe: um paradoxo é algo que parece impossível mas que é demonstravelmente verdadeiro. Assim sendo, foi um paradoxo quando um cientista cuidadosamente analisou abelhões e concluiu que de acordo com as leis da física eles não poderiam voar. Havia contradição e uma aparente impossibilidade, mas os abelhões continuaram a voar.


Entretanto, um indivíduo ser ao mesmo tempo perfeito e imperfeito é o oposto disso: pode parecer verdade para alguns, mas é demonstravelmente impossível. E não apenas impossível para a nossa compreensão das leis da natureza, que pode estar errada (como com o caso dos abelhões), mas é impossível de acordo com as leis da lógica sobre as quais todo o nosso raciocínio é baseado.


Dizer que alguém é, ao mesmo tempo, perfeito e imperfeito é como dizer que você viu um círculo quadrado. Isso é uma impossibilidade. Você está dizendo que o círculo não era redondo, o que faria com que não fosse um círculo? Ou você está dizendo que o quadrado era circular? Isto não é um paradoxo, isto é um absurdo sem sentido algum, independentemente de quão criativo seja.


Dizer que alguém é perfeito e imperfeito ao mesmo tempo é dizer que "igual a X" e "diferente de X" sejam a mesma coisa. Isso é ou abandonar o significado dessas palavras ou abandonar a lógica, e de qualquer maneira significa que estamos falando um absurdo que não pode fazer nenhum sentido para nós.


Os ortodoxos responderão que Jesus era limitado, falível e imperfeito quanto a sua natureza humana, mas ilimitado, infalível e perfeito em sua natureza divina. Isso pode soar bem, mas o que significa ter duas naturezas? Se significa ter duas mentes e duas vontades e dois caráteres, um perfeito e outro imperfeito, então significa que havia duas pessoas distintas ocupando aquele único corpo (ou Jesus era um esquizofrênico). Do contrário, se essa foi realmente a única pessoa Jesus o Cristo, como afirma a ortodoxia, então ou essa pessoa era perfeita ou não era. Ou ele era capaz de pecar ou não era. Ou ele tinha conhecimento limitado ou não tinha.


Por exemplo, ou ele sabia - não acreditava, mas sabia - que seria ressuscitado no segundo dia após sua morte, ou ele não sabia isso. Se ele sabia, então ele não enfrentou a morte como qualquer outro ser humano, e ele não estava enfrentando nenhum risco real em permitir que fosse capturado, julgado e crucificado. Então, no tocante a isso, ele não poderia ser considerado plenamente humano. Se, no entanto, ele não sabia que seria ressuscitado, e enfrentou a morte em fé mas sem este conhecimento, então como ele poderia ser também Deus? Se a natureza divina nele sabia que ele seria ressuscitado, mas ele não sabia disso, então não era sua natureza divina. Se o divino nele sabia de algo que ele não sabia, voltamos ao problema das duas pessoas.

Então dizer que Jesus era completamente humano e completamente divino não é um paradoxo. É como falar sobre um quadrado redondo: soa bem, e faz uma combinação de imagens interessante, mas está no fim sem um significado discernível. Algumas pessoas têm tentado suavizar isso, dizendo que sua pessoa era constituída por Deus o Filho, e sua humanidade era "impessoal". Mas isso não ajuda muito. Humanidade impessoal é como um quadrado sem quatro cantos: pode ser um círculo melhor, mas não é mais um quadrado.


Outros responderiam que o problema aqui é que eu estou usando palavras com seus significados humanos, enquanto que eu devo perceber que quando aplicadas a Deus essas palavras recebem um significado diferente e mais profundo. Deixem-me dizer isto: se quiserem redefinir algumas destas palavras, tudo bem, contanto que possam nos dizer os novos significados que estão usando. A prática habitual, entretanto, parece ser dizer que enquanto alguém não possa precisamente dizer quais são esses novos significados, alguém tenha, entretanto, certeza de que eles se encaixem de forma a fazer sentido. Isso, claro, é simplesmente um esforço de se evitar as exigências da lógica. Mas se você não sabe os significados das palavras que você está aplicando a Jesus, então você está meramente dizendo "Jesus é X" e "Jesus é Y", com X e Y sendo desconhecidos. Isto, claro, é dizer absolutamente nada.


Mesmo que este problema de lógica possa ser superável - o que não é - e que possamos admitir que é possível que Jesus seja, tanto um ser completamente humano, quanto completamente divino, nós ainda teríamos que apontar para o fato de que ele não poderia ser completamente humano da mesma maneira que você e eu. Você sabe que eu - e, eu suspeito, que você também - não possa ser Deus. Tenho a impressão que isso não seja simplesmente um ponto insignificante, mas que um fato central da condição humana seja precisamente o de ser e se sentir separada do Deus eterno e infinito. Se é assim, então ser Deus é também não experimentar a condição desvantajosa da humanidade. E se Jesus não experimentou nossa desvantagem, não apenas ele não foi completamente humano, mas seus ensinos e exemplos são de relevância questionável para nós.


3. Ela Viola Nosso Senso Comum

Você provavelmente sabe o que vou dizer. Mesmo que fosse logicamente possível Jesus ser completamente Deus e completamente humano, ainda violaria nosso senso comum. Se nosso senso comum não pode conceber Deus como um intervencionista, então certamente não podemos conceber Deus como tendo se tornado um ser humano particular. Isso talvez seja apropriado para Zeus ou Apolo, mas não para o Deus do Universo.


Não estou dizendo que Jesus não estivesse mais em contato com Deus ou mais receptivo a Deus que a maioria. Penso que ele estava. E não estou dizendo que Deus não estivesse nele, agindo nele e através dele. Tudo que estou dizendo é que não posso acreditar que uma pessoa ser atingida por um relâmpado seja um ato de Deus, então, também, não posso crer que o homem Jesus era Deus em pessoa. É o mesmo senso comum.


4. É Desnecessária E Inútil


Já vimos que a fé ortodoxa na divindade de Jesus de Nazaré é (1) apenas uma das possíveis maneiras de explicar sua centralidade que podem ser subentendidas a partir do Novo Testamento; (2) não se encaixa nos limites do que é logicamente possível; e (3) é contrária ao nosso senso comum. Além de tudo isso, é também muito inútil.


Uma das regras que estabeleço para que uma crença possa ser considerada necessária à fé cristã é de que apenas se ela estiver fortemente implícita na mensagem de Jesus ou se for necessária à aceitação de sua mensagem. É um dos dois o caso aqui?


No tocante à mensagem de Jesus, um impressionante consenso entre os biblicistas que (independentemente do que digam João e Paulo) Jesus não declarou que ele mesmo fosse Deus, explícita ou implicitamente. Não posso encontrar nenhuma razão para desafiar este consenso, posso sim encontrar muito para apoiá-lo. Então uma crença na divindade de Jesus não pode, por isso, ser considerada necessária.

Poderia ser necessário, então, acreditar que Jesus seja divino para aceitar sua mensagem? Talvez. Se você acreditasse que o amor e perdão e nova vida em Deus que Jesus oferecia não seria possível a não ser que um ser perfeito sofresse e morresse por nós, ou a não ser que a Deidade incorruptível adentrasse a esfera da carne humana corruptível, então para você uma crença na divindade de Jesus poderia ser necessária antes que você pudesse responder positivamente à sua mensagem. Entretanto, nem todo mundo crê nisso, então, nem todo mundo acha necessário crer na divindade de Jesus. Ele não ensinou que fosse necessário, seus discípulos (de acordo com Mateus, Marcos, e Lucas-Atos) não achavam necessário; eu não acho necessário; e muitos cristãos comprometidos por todos os séculos não achavam necessário. Se você acha necessário, então você certamente pode crer nisso. A crença na divindade de Jesus é certamente uma alternativa cristã, mesmo que seja equivocada. Mas, por favor, não conclua precipitadamente que porque você acha esta crença necessária para a sua aceitação da mensagem de Jesus, ela deva ser obrigatória para todos nós. Pois este não é o caso.


Na verdade, há muitas pessoas que serão capazes de aceitar a mensagem de Jesus apenas se ela estiver presa à afirmação de sua divindade. Se prendermos sua mensagem à uma interpretação de sua centralidade particular, desnecessária e ilógica, estaremos impedindo que sua mensagem seja uma opção viva para pessoas que estariam prontas para aceitar uma outra interpretação, mais biblicamente autêntica. Como cristãos não temos o direito de impedir o acesso ao evangelho por outras pessoas dessa maneira. Muitos séculos atrás a Igreja usava os conceitos da filosofia grega para evangelizar o mundo greco-romano. O evangelismo agora não pede uma nova interpretação que esteja de acordo com o nosso próprio senso comum?


Além disso, considerar Jesus como completamente humano e portanto não divino, torna possível que sua vida sirva de exemplo para nós. Se esta pessoa que buscou os pecadores, amou aqueles que ninguém amava, e perdoou seus inimigos mesmo enquanto morria na cruz - se ele era divino, então posso tomar seu exemplo como sendo apenas possível para as pessoas que também forem Deus, e deixar seus ensinos para aqueles que não partilham de minha limitação, aquela de ser apenas um humano. Mas, se este homem era humano como eu, se ele era uma criatura limitada e falível como eu, e ele foi capaz de viver daquela maneira - então eu também posso. E seus ensinamentos são, então, relevantes, pois eles vêm de alguém que partilhava de minhas limitações. Para mim, e para muitos, a relevância de Jesus como um exemplo e mestre é muito mais importante para a aceitação de sua mensagem do que sua divindade.

Para onde vamos daqui?


Se Jesus não é divino, então de onde vem sua autoridade? Como damos a ele tal posição de importância? Quem dizemos ser ele, então? Estas são questões sobre as quais pensaremos em seguida.


Primeiro, entretanto: eu declarei a mais séria de minhas diferenças com a doutrina ortodoxa. Eu disse que no tocante à Encarnação, ela é inadequada, sem sentido e desnecessária, mas que também creio ser ela uma alternativa cristã válida. Este, então, seria um lugar apropriado onde explorar a relação entre entre doutrina e fé, e explorar a diferença entre estar certo e ser cristão.


Notas:


1. Recomendo ao leitor “The Emergence of the Catholic Tradition” escrito por Jaroslav Pelikan (University of Chicago Press, 1971) ou “A History of Christian Doctrine”, Hubert Cunliffe-Jones, ed., (Fortress Press, 1980). John Cobb, Jr., também tem um ótimo sumário no Capítulo 9 de “Christ in a Pluralistic Age” (The Westminster Press, 1975). nenhum desses indivíduos podem ser responsabilizados por qualquer coisa que tenha dito aqui.


2. Aqueles que falam de Deus como imanente em todos nós, mas plenamente imanente em Jesus de Nazaré apresentam uma alternativa que escapa alguns dos problemas da explicação ortodoxa da centralidade de Jesus. Mas deve-se manter em mente que esta não é a doutrina ortodoxa da Encarnação, que representa Jesus como diferente de nós em espécie, não apenas em nível, e que não diz que Deus estava em Jesus mas que Deus se tornou Jesus.